Imprensa francesa repercute dança das cadeiras na Petrobras

Demissão de José Mauro Coelho ocorreu apenas 40 dias após sua nomeação

O diário econômico francês Les Echos analisou nesta quarta-feira (25) a terceira troca de presidente da Petrobras feita pelo presidente Jair Bolsonaro – a segunda só em 2022. O correspondente do jornal em São Paulo analisa a rotatividade no cargo da maior empresa brasileira em termos de receita, que tem provocado perda no valor das ações da petrolífera no mercado.

A demissão de José Mauro Coelho, 40 dias após sua nomeação, ocorreu poucos dias depois do presidente da Petrobras determinar um novo aumento de cerca de 9% no preço do diesel. Na sequência desse reajuste, Bolsonaro havia demitido o ministro de Minas e Energia, o almirante reformado Bento Albuquerque.

Segundo o Les Echos, todos os dirigentes demitidos da Petrobras “foram considerados incapazes de conter o aumento dos preços dos combustíveis em tempos de crise da Covid-19 e da guerra na Ucrânia”. Bolsonaro quer evitar reajustes até as eleições de outubro, mas “os sucessivos presidentes à frente da Petrobras têm respeitado a política de paridade de preços do barril no mercado internacional”. Ou seja: quando o petróleo sobe, a Petrobras aplica um reajuste na bomba, o que irrita o presidente brasileiro.

José Mauro Coelho ficou apenas 40 dias no cargo. Dovulgação

O intervencionismo de Jair Bolsonaro é severamente julgado por especialistas, observa o Les Echos. Essas demissões são estritamente políticas, diz um observador, destinadas a preservar a popularidade do presidente. Como ele não pode controlar a política de preços na estatal, usa a autoridade para demitir e nomear dirigentes, enviando simultaneamente uma mensagem de força aos simpatizantes de sua base mais radical, destaca Les Echos.

O diário francês afirma que Caio Paes de Andrade foi abordado para assumir a presidência da Petrobras. “Assim como o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, ele é próximo do ministro da Economia, o ultraliberal Paulo Guedes, que apoia a privatização da maior empresa do país.”

Trazer a questão da privatização da Petrobras para a campanha eleitoral também pode ser uma oportunidade para Bolsonaro abordar o tema da corrupção nos governos anteriores, acrescenta Les Echos, e um pretexto para atacar diretamente o ex-presidente Lula, seu principal adversário em outubro.

Por RFI