Empreendedorismo tem sido o caminho dos idosos brasileiros após a aposentadoria
Não é segredo. O sonho de empreender faz parte dos projetos do brasileiro, ainda que, em crise, o alto percentual se destaque por milhões de empreendedores por necessidade, diante da escassez de trabalho. O que não invalida o perfil criativo, desafiador e perseverante de quem passa a ser dono do próprio negócio. E este nicho tem sido a escolha da população acima dos 60 anos, mesmo tendo de lidar com os obstáculos do etarismo, da qualificação, da inclusão no mundo digital.
O empreendedorismo tem sido o caminho dos idosos brasileiros após a aposentadoria. A chamada “economia prateada” só aumenta. Segundo o Oxford Economics, a silver economy é a soma de todas as atividades econômicas associadas às pessoas com mais de 50 anos. E os números são inquestionáveis e comprovam tanto o acelerado crescimento numérico como o enorme potencial qualitativo dessa faixa etária: até 2025, o mundo terá mais de 2 bilhões de pessoas acima de 60 anos, 25% da população total.
Mauro Wainstock, sócio-fundador da HUB 40, comunidade voltada para a empregabilidade e marketing de pessoas acima dos 40 anos, nomeado Linkedin Top Voice & Creator e mentor de executivos, destaca que, segundo o relatório Global Entrepreneurship Monitor, desenvolvido pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade, empreender está no “top 3” dos principais sonhos dos brasileiros. E, de acordo com levantamento feito pelo Sebrae, 49% dos 53 milhões de empreendedores no Brasil têm mais de 50 anos.
Por que isso ocorre? “São vários os motivos. Diante das dificuldades de obter um emprego formal, em virtude da crise econômica ou do etarismo, eles começam a pensar em empreender por necessidade financeira, já que precisam se sustentar e contribuir com os recursos financeiros da família: 76% dos brasileiros 50+ são a única ou a principal fonte de renda das residências do país.”
O brasileiro também decide empreender depois de anos de experiência no emprego formal: “O profissional 50 acredita que tem a experiência necessária e está aberto para os riscos do negócio próprio. E, ainda, sabe que pode viver mais de 90 anos e precisa se sentir útil e produtivo, aplicando seus conhecimentos com autonomia, socializando e trocando conhecimentos com gerações mais novas”.
Ruptura
É fato que as janelas de oportunidade de emprego no mercado tradicional tendem a se fechar às pessoas que atingem a faixa etária próxima dos 40 anos. Essas pessoas têm no seu cotidiano uma vivência de 20, 25 até 30 anos de atividades laborais intensas e o sentimento de realização. “Infelizmente, o que resta é o sentimento de que a tão famosa obsolescência programada, inerente a todas as coisas e produtos, os alcançou precipitadamente. O afastamento do trabalho, representado pela ruptura identitária, implica reorganização do projeto de vida, processo que acarreta profundas mudanças no cotidiano das pessoas”, constata a mestra em administração e psicóloga Heliane Gomes Azevedo, diretora institucional do Instituto de Pesquisa e Projetos Empreendedores (IPPE), que investe na inclusão empreendedora por meio de capacitações inovadoras e criativas com cursos gratuitos.
Para Heliane Azevedo, os principais entraves dos empreendedores 60 são que a maioria fica engessado, dentro de si mesmo e utilizando aquele processo de engavetar sonhos e possibilidades. Para ela, é preciso tomar uma atitude de mudança. “O mindset de crescimento diz: eu vou dar conta. É esse o grande desafio. Acreditar. Saber, saber fazer e querer fazer.”
Desafios
“Em julho de 2014, trabalhava como engenheiro civil em uma obra de grande porte, comandando mais de 150 operários. Acreditava que tudo estava indo bem, quando, para minha surpresa, o diretor do empreendimento me avisou que, diante da grande crise financeira por que passava o Brasil e as atividades da empresa estavam diminuindo, alguns colaboradores seriam dispensados, inclusive eu. Foi um choque. Cheguei em casa arrasado. A minha vida mudou de repente. Eu me vi acuado, sem lugar para ir, sem ter o que fazer”, lembra João Silveira Monteiro, de 72 anos.
Ele conta que o empreendedorismo foi a saída encontrada para ter uma renda extra, que reduziu à metade depois da demissão e aposentadoria: “Depois de três anos procurando emprego, já com 68 anos, com a inquietação aumentando, resolvi sair da minha zona de conforto, fiz vários cursos que aumentaram meus conhecimentos para melhorar como empreendedor”.
Empreendedorismo no BrasilDados do terceiro trimestre de 2021, conforme estudo feito pelo Sebrae
1,8 milhão de empreendedores brasileiros com 65 anos ou mais, o que corresponde a 7,3% do total de donos de negócios de pequeno porte
50% desses empreendedores estão na Região Sudeste, sendo que São Paulo (29%) e Minas (10%) são os estados com maiores concentrações
Por Estado de Minas