Genéricas e enigmáticas: veja como estão as redes de Bolsonaro

Foto Fábio Motta/Estadão

Atual presidente também reduziu drasticamente suas interações on-line

Desde que perdeu a eleição para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, há pouco mais de um mês, o presidente Jair Bolsonaro (PL) está recluso e em silêncio. Foram apenas dois pronunciamentos curtos e protocolares e poucas saídas do Palácio da Alvorada, sua casa até o próximo dia 31 de dezembro. Fenômeno nas redes sociais desde a época em que era deputado federal, o presidente não reeleito também reduziu drasticamente suas interações on-line – mas não as interrompeu totalmente.

Presente e seguido por milhões de internautas em praticamente todas as redes sociais, Bolsonaro se notabilizou ao longo do mandato presidencial por usar seus perfis quase como veículos oficiais de divulgação de informações, decisões e posicionamentos. A transmissão ao vivo às quintas-feiras para fazer um balanço da semana, por exemplo, foi uma tradição mantida por quatro anos.

Tudo mudou desde a derrota eleitoral, inclusive com a interrupção das tradicionais lives no Youtube, mas os perfis do presidente continuam sendo alimentados. No caso do canal que mantém no Telegram, por exemplo, Bolsonaro ainda distribui postagens quase diariamente, mas o tom não é mais político. Geralmente são postagens genéricas sobre ações e resultados do governo, a maioria sendo reproduções de posts feitos por ministérios, estatais e outros órgãos. O mesmo se repete em outras redes que não são tão populares, como o LinkedIn. Veja alguns exemplos:

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Nas redes em que tem mais seguidores, Facebook, Twitter e Instagram, Bolsonaro vem postando menos e com foco diferente. Os perfis presidenciais publicam principalmente fotos, a maioria sem legenda, do presidente trabalhando, assinando papéis e valorizando símbolos nacionais, como a Bandeira do Brasil.

Essas postagens dialogam, de certa forma, com as angústias de bolsonaristas que não aceitam o resultado da eleição e estão protestando todos os dias em portas de quartéis. Para alguns desses apoiadores, o silêncio de Bolsonaro pode fazer parte de um plano oculto para reverter o resultado das eleições.

A cada postagem, milhares de seguidores respondem pedindo que Bolsonaro deixe a reclusão e tome alguma atitude contra a vitória de Lula – algo que não está nas mãos dele, pois o resultado das eleições já foi homologado pela Justiça Eleitoral.

As postagens de Bolsonaro também recebem respostas de apoiadores conformados com a derrota, que tentam animá-lo ou consolá-lo; de críticos, que zombam dele; e de cidadãos que ainda esperam que ele volte a se manifestar com a destreza de outros tempos.

O chinês TikTok é outra rede na qual o perfil de Bolsonaro faz postagens que têm por objetivo manter algum engajamento entre seus apoiadores e mostrar certa presença virtual. Lá também, no entanto, o presidente não tem publicado nada que não tenha tom genérico ou enigmático.

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Um presidente silencioso

Apesar de não ter sido reeleito, Bolsonaro não teve desempenho desastroso na eleição. Conseguiu eleger aliados para cargos importantes, como o governo do estado mais rico e populoso do país, além de ter ajudado seu PL a alcançar a maior bancada da próxima legislatura na Câmara.

Com o país polarizado, os aliados de Bolsonaro previram que ele seria o líder natural da oposição a Lula e mantivesse a chama acesa para as eleições municipais de 2024 e para a sucessão a Lula em 2026. O insistente silêncio do presidente não reeleito, porém, está levando os políticos que estiveram a seu lado a rever essa expectativa.

De acordo com apuração do colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, está assustado com a fragilidade de Bolsonaro e esperava que ele já tivesse reagido e voltado a se comunicar.

Apesar de ter o costume de aprovar o que é postado em suas redes, como já relatou em algumas oportunidades, Bolsonaro não é o principal coordenador da estratégia nas suas redes sociais. Esse papel cabe a um de seus filhos, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, que também ficou mais silencioso na web desde a derrota do pai, mas não parou de fazer política.

Na última quarta, por exemplo, Carlos protestou contra uma restrição feita pelo Facebook a uma das postagens enigmáticas no perfil do presidente não reeleito. Veja:

Por Metrópoles