Rui Pedro Antunes: “O investidor estrangeiro continua a acreditar no elevado potencial de crescimento do Brasil”

Roberto Dardis, colunista do Brasil 61, entrevista o profissional do setor de varejo com experiência de 25 anos

O economista Roberto Dardis entrevista Rui Pedro Antunes, profissional do setor de varejo com experiência de 25 anos em empresa multinacional do setor, com atuação no mercado europeu, norte da África, América do Sul e atualmente com base em Madri, para um bate-papo sobre juros, reformas e economia em geral e uma visão de como somos enxergados pelo exterior em termos econômicos e políticos.

Roberto Dardis – Com juros a 13,75%, você diria que atrapalha muito nos investimentos ou isso não interfere?

Rui Antunes – Taxas de juro tão elevadas são claramente um sinal de que a economia atravessa alguns problemas e como tal, do ponto de vista de investimento, torna pelo menos o processo de decisão mais lento. Isto porque para investir (na maior parte dos casos) necessita-se financiamento e este está muito caro e depois as exigências de retorno do investimento são maiores, mas mais dificilmente se garante o seu cumprimento. Ainda assim existem sempre oportunidades de investimento, mas o principal problema é o ritmo a que isso é feito, não só pelos custos, mas também pela incerteza que isto provoca no futuro.

RD – De zero a 10, qual a nota que você daria sobre intromissões políticas na economia? E qual o peso que essa intromissão pode causar ao país?

RA – Eu não conheço a realidade do dia a dia do Brasil, acompanho pelas notícias e por contatos com amigos brasileiros, mas como critério geral, defendo que a economia deve funcionar da forma mais livre possível sendo, no entanto, obrigação do Estado / Governo que se cumpram as regras básicas e concorrência pelo que qualquer tentação de interferir diretamente nesta mecânica nunca será positiva até porque essa intervenção nunca é garantia de que as coisas funcionem melhor.

Em termos de imagem externa, economias que sofrem grandes interferências das entidades políticas são necessariamente economias menos atrativas para os investidores externos que quando se lançam em projetos internacionais procuram segurança nos investimentos, segurança jurídica e política e o não-intervencionismo (exagerado) das entidades políticas na economia é claramente um fator chave na decisão.

RD – Como você enxerga de fora o atual governo?

RA – Na realidade a entrada de Lula no governo foi vista com expectativa positiva pois a imagem do governo Bolsonaro em muitos países da Europa não era a melhor. Era visto como um governo com déficit democrático, com um alinhamento (perigoso) com Trump, em que a gestão COVID foi manifestamente má, sem querer fazer reconhecimento da maior pandemia mundial das últimas décadas e onde se acreditava que seria mais forte (até pelo seu passado militar) e que se poderia refletir numa grande retidão da governação, acabou igualmente por ser salpicado por alguns eventos de corrupção. Agora Lula e o seu governo têm tido um início que considero no mínimo tímido, ou seja, têm demorado a tomar decisões (quando se exige atuação rápida face à crise econômica em que se vive) e de ponto de vista geopolítico, de relações internacionais, tem sido bastante ambíguo nos seus discursos e economicamente as poucas propostas apresentadas não são claras. Creio, no entanto, que ainda lhe é reconhecida margem para melhorar a sua atuação.

RD – O que o investidor estrangeiro enxerga no país para investir aqui?

RA – Neste momento o investidor estrangeiro continua a acreditar no elevado potencial de crescimento do Brasil e não apenas do ponto de vista turístico, mas igualmente do ponto de vista de mercado imobiliário ou outro tipo de investimento. Porém, a elevada instabilidade econômica, a falta de medidas claras para combater esta situação (e temos de ver que o Brasil mantém a sua liberdade do ponto de vista de política econômica e cambial, algo que não se aplica nos países da UE), o passado de casos de corrupção e intervencionismo em empresas de grande importância, é geradora de desconfiança, apreensão e como dizia inicialmente, pode ser motivo para que esses investimentos se mantenham em stand by até haver uma perspectiva mais clara da evolução futura e dos alinhamentos estratégicos que se façam com outros países da região ou fora dela.

RD – Você acha seguro investir no Brasil?

RA – Acho que apesar dos pontos comentados anteriormente, ainda se pode considerar ser seguro investir no Brasil, sendo que esta ideia de segurança do investimento no atual cenário macroeconômico, deve ser encarado com alguma prudência. Mas em geral o Brasil oferece oportunidades de investimento, tem potencial e ainda se encontra longe (e espero que não faça caminho contrário) de economias altamente intervencionistas e com elevada insegurança legal e fiscal. Além disso, o Brasil, tal como muitos outros países, tem um histórico de superação que permite sempre ver o futuro com positivismo.

Fonte: Brasil 61