Novo “Mais Médicos” abre mais de 15 mil vagas de medicina, mas cidades precisam de infraestrutura

Reprodução

Para diminuir a desigualdade é necessário verba para a construção das universidades e instalação de uma infraestrutura específica e melhor qualificada para o SUS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sancionou nesta sexta-feira (14) a Medida Provisória que reformula o programa Mais Médicos. Assinada em Brasília, a medida prevê o pagamento direto aos médicos, o abatimento do Fundo de Investimento Estudantil (Fies), a abertura de novos editais para a retenção de médicos para equipes de Consultório na Rua e população prisional, além da ampliação de vagas para os territórios indígenas. Com a nova medida, universidades e vagas de medicina ganham visibilidade e a interiorização da mão de obra em cidades mais carentes ganham esperanças em dias melhores. 

Segundo Rodrigo Bouyer, avaliador do INEP, docente e sócio fundador da BrandU e da Somos Young, explica que quando se fala em lei dos “Mais Médicos”, “precisamos analisar essa lei no contexto em que ela está sendo aplicada. Então a gente precisa entender que a lei dos “Mais Médicos” na verdade é uma política pública de saúde para ser aplicada num país extremamente complexo como o Brasil, complexo pelas suas dimensões continentais, complexos pela desigualdade que se estabelece entre as cidades e regiões e complexo pelo fato da ampla maioria da população ser totalmente dependente do SUS”. 

Com a ação, o governo federal deverá promover o acesso à saúde para mais de 96 milhões de brasileiros, assim como a abertura de mais de 15 mil vagas para o programa. Desde o começo do ano, 3,6 mil profissionais já atuam no projeto, em 2 mil municípios. 

O novo “Mais Médicos” também altera as antigas regras para a revalidação do diploma de médico intercambistas e cria incentivos para o atendimento em comunidades de difícil acesso. Dessa forma, médicos sem validação poderão atender no programa por até quatro anos, mas devem realizar provas periódicas. A prorrogação da participação no programa federal só será possível com a apresentação do diploma revalidado.

Para Bouyer, “o problema é que muitos desses municípios e desses lugares de desigualdade precisam de construção das universidades e instalação de uma infraestrutura específica e melhor qualificada para o SUS. Precisa de transporte para os profissionais médicos lecionarem nessa região e o orçamento para se fazer isso de forma mais rápida, vem da iniciativa privada”, explica. 

physician in white coat wearing a stethoscope
Foto Pavel Danilyuk

“Por isso os editais de chamamentos públicos para abertura de novos cursos privados de medicina pelo Brasil são tão importantes. Então é uma parceria que o Ministério da Saúde, o Ministério da Educação e as instituições privadas estão estabelecendo para suprir esse desafio de falta de médicos no Brasil. E quando a gente olha a MP que foi aprovada, ela traz alguns avanços em diversas áreas quando a gente relaciona isso com a educação”, complementa. 

O texto aprovado também estabelece que regiões dentro dos critérios de vulnerabilidade social, em especial as comunidades indígenas, remanescentes de quilombos e as comunidades ribeirinhas, devem obter atendimento prioritário. Médicos aprovados na residência de Medicina de Família e Comunidade após cumprirem, ininterruptamente, 24 meses de formação e que tenham feito a graduação em medicina financiada pelo (Fies) poderão ter o saldo devedor pago pelo governo.

“Realizar a residência necessária nas especialidades exigidas, a interiorização desses médicos no âmbito do SUS, é o Governo Federal pagando duas vezes para garantir a inclusão de pessoas de todas as classes sociais na medicina e principalmente nas especialidades em que o SUS mais se beneficia, em que a população mais precisa atualmente”.

Então de que adiantaria ter muitas instituições se não há profissionais habilitados a lecionar? “Mais um diferencial da MP permite então a transferência de recursos também para formação de médicos que vão lecionar para ensinar novos médicos. Isso é muito importante no Brasil, isso é primordial para se obter sucesso nessa política pública. Além disso, tem um ponto que também é interessante, que são algumas indenizações para quem trabalhar em área de vulnerabilidade, para quem trabalhar em municípios distantes”, finaliza o avaliador.

Por Fabio Bouças