Uso excessivo de telas está relacionado a uma piora da saúde mental de seus usuários, aponta tese da UFMG

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Educadores sugerem a determinação do tempo de tela de acordo com a idade e a busca por atividades que propiciem mais possibilidades de socialização

O uso excessivo de telas está relacionado a uma piora da saúde mental de seus usuários, independentemente da idade, constatou tese defendida no Programa de Pós-graduação em Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da UFMG. A utilização dos dispositivos como distração para as crianças, enquanto os pais buscam realizar suas tarefas, contribui para o aumento nas horas de uso, também constatou a pesquisa. 

Educadores sugerem a determinação do tempo de tela de acordo com a idade e a busca por atividades que propiciem mais possibilidades de socialização. Para a pedagoga Karla Lacerda, diretora do Colégio Progresso Bilíngue Santos, a tecnologia não deve ser vista como a “vilã” do uso excessivo de telas pelas crianças (celulares, tablets e TVs), mas como uma ferramenta de aprendizado. “É sempre importante entendermos que a tecnologia faz parte do nosso cotidiano e não é a vilã da história. Precisamos aprender a lidar com ela e utilizá-la da melhor forma possível para o nosso desenvolvimento individual e social e dos nossos filhos.”

Até porque as crianças também usam as telas para se comunicar com os colegas, pesquisar e aprender outros conhecimentos. Seja qual for o objetivo, os pais devem acompanhar esse uso, acrescenta Karla. “Elas acabam se comunicando com colegas no presencial e através dos jogos e redes sociais. Mas, para além da quantidade, a qualidade dessa exposição é bastante importante que os pais olhem também.”

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Quando o limite é ultrapassado, Karla reconhece que o desenvolvimento socioemocional e físico das crianças é prejudicado. “Há aspectos cognitivos que podem ser afetados pela excessividade do uso das telas. Estamos falando de distúrbios de aprendizagem, aumento da impulsividade e diminuição de habilidades físicas, quando a criança fica muito tempo parada na mesma posição. E o traquejo social delas também vai ficando reduzido, porque não existe troca de experiência com outras crianças”, assinala.

Para evitar que as crianças usem demais os dispositivos móveis, a educadora parental Stella Azulay, fundadora da Juntos Educação, defende a construção de vínculos emocionais desde cedo. “Conectar-se com o filho é a única forma de os pais realmente estabelecerem bom diálogo e influência positiva. Essa conexão transforma a relação da família numa relação saudável, baseada em comunicação efetiva”, diz. 

Como alternativa às telas, as atividades físicas são importantes. Esportes, caminhada e jogos de tabuleiro são alternativas lúdicas para as crianças. Uma delas é onde um dos pais organiza uma ‘caça ao tesouro’, escondendo uma relíquia familiar (álbum de fotos ou algum item que pertenceu aos antepassados). Quando ela é encontrada, os pais contam a história desse objeto. “A grande estratégia para tirar as crianças das telas é algo que envolva a família toda, para que se construam novas relações”, afirma.

Nesse sentido, o livro caixinha “Conte sua história para seu filho”, de Stella, traz 100 cartas com cada uma contendo uma pergunta sobre uma passagem da vida dos pais na infância, adolescência e juventude, que pode ser usado pelos pais para reforçar os laços com os filhos. “Dividir histórias pessoais tem um grande impacto nas mensagens de vida para as crianças”, disse a autora. 

Para que as crianças fiquem menos tempo nas telas, Karla reforça que os pais precisam dar o exemplo. “Se os pais voltam cansados do trabalho e têm meia ou uma hora para ficar com os filhos, que ela seja com total atenção. Não adianta pedir para o filho sair das redes sociais se um dos pais também não se desliga delas. Eles também precisam se libertar da rotina de uso do celular”. 

Na sala de aula

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A diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho e doutora e mestre em pedagogia do Movimento pela Universidade de São Paulo – USP, Fabia Antunes, afirma que os dispositivos tecnológicos são um excelente recurso para otimizar momentos de ensino-aprendizagem, desde que haja planejamento pedagógico. Ela explica, porém, que o uso individual do celular na sala de aula é proibido na Lourenço Castanho.

“Entendemos que esses equipamentos realmente potencializam, em alguns momentos, a aprendizagem. Mas ensinamos e mostramos às crianças e aos adolescentes como fazer o uso adequado”, afirma Fábia. Ela lembra que a escola trabalha com os estudantes o conceito de cidadania digital. “Nessas aulas planejadas pelos professores e orientadores, falamos inclusive sobre a importância do que os alunos compartilham e sobre os impactos do uso excessivo das telas”.

Por Bartira Betini