A imprensa e a pós-verdade

“Pós-verdade é pré-fascismo e Trump foi nosso presidente pós-verdade”

Foto Michael Gaida

Quando desistimos da verdade, damos poder àqueles com dinheiro e carisma que criam um espetáculo em seu lugar. Se não concordamos a respeito dos fatos mais básicos, cidadãos não formam uma sociedade civil que permite sua defesa. Se perdemos as instituições que produzem fatos pertinentes a nós, então nos emaranhamos em abstrações atraentes e ficções. A verdade se defende mal quando há pouco dela no entorno, e a Era Trump — como a Era Vladimir Putin, na Rússia — é uma de declínio do jornalismo local. As mídias sociais não substituem: elas superestimulam os hábitos mentais pelos quais buscamos estímulo emocional e conforto, ou seja, perdemos a distinção entre o que sentimos ser a verdade e o que de fato é a verdade.” (Timothy Snyder, New York Times)

É muito fácil concordar com a afirmação acima em gênero número e grau. Mas venhamos e convenhamos, quando a imprensa “perde a mão” da verdade, quem declinou? A imprensa é formada de jornalistas, individualmente ou coletivamente são os guardiões da verdade. O problema está justamente naqueles que, por interesses outros, desvirtuam a verdade para entregar uma outra narrativa para o leitor.

Olhar pra Trump, Putin ou Bolsonaro sem olhar para os hábitos, as práticas recorrentes, aquela pequena mentira de fácil aceitação e se calar, é não querer resolver ou mudar. Ontem, 10 de janeiro de 2021, uma matéria foi postada no Grupo do Covid-19 Campo Grande elencando as 7 mudanças permanentes que acontecerão por força da pandemia. Mas a matéria começa apontando que o autor da lista de mudanças, Bill Gates, havia previsto a pandemia cinco anos atrás. Interferi, disse que era uma inverdade, pois a OMS, dez ou mais anos antes já havia previsto seu aparecimento, o que levou a universidade de Oxford a desenvolver estudo de uma nova forma de produção mais rápida de vacina. Essa pequena mentira colocada em meio de comunicação “séria”, sem ressalvas, desautoriza a ciência e suas boas práticas, criando uma pós-verdade, tirando o veredito de quem interessa e dando “poder de fala” a quem não lhe é de direito. Isso nos mostra o porquê, depois, tanta gente vem a público “desautorizar” um organismo sério e de responsabilidade mundial como a OMS.

Jornalistas criaram a pós-verdade e permitiram o aparecimento do pré fascismo. Esse é um texto que, na verdade, longe de ser crítica e um “somos inocentes” amarelado que a grande imprensa mundial usa nesse momento que podem lhes imputar uma culpa ou uma responsabilidade.