Um app pode mudar sua personalidade?

O aplicativo Peach diz que sim, mas há ressalvas

Você já quis mudar a sua forma de responder a determinadas situações? Já pensou em ser menos impaciente ou mais extrovertido? Desejou ser menos…trouxa? O aplicativo Peach foi criado com o objetivo de ajudar usuários a ajustarem características indesejadas atribuídas à personalidade.

O software desenvolvido na Universidade de Zurique, na Suíça, promete atuar sobre os cinco principais grupos de padrões de pensamentos categorizados pela psicologia: abertura à experiência, consciência, extroversão, afabilidade e neuroticismo.

O funcionamento do Peach é baseado em uma espécie de diário/planner, e também conta com uma plataforma de mensagens de texto. O app disponibiliza as metas de cada usuário e um calendário que mostra o seu progresso.

Se o seu objetivo inicial é ser mais extrovertido, o app pode incentivá-lo e cobrá-lo a assumir a liderança em mais situações durante a semana. O Peach envia duas notificações aos usuários todos os dias. Quando você cumpre as suas metas, o painel de progresso é atualizado.

O seu próprio “coach digital”

Dentro do aplicativo, há ainda um chatbot que conversa com o usuário a respeito das atividades diárias. A ideia é incentivar o cumprimento de cada meta e estimular os usuários durante a semana.

Caso sinta-se mais à vontade, é possível preencher um diário com autoavaliações sobre o progresso com o uso do app, explicando de que forma você vem explorando os cinco principais traços de personalidade.

O Peach funciona, diz estudo – mas há ressalvas

A eficácia do aplicativo que pretende ajudar usuários a mudarem de personalidade foi questionada, especialmente porque há correntes distintas da psicologia que debatem sobre a capacidade de mudar tais padrões comportamentais e emocionais. Muitos profissionais acreditavam que esses traços são imutáveis. No entanto, um estudo publicado este ano na revista Proceedings of the National Academy of Sciences comprova que o app funciona.

A pesquisa testou o Peach com 1.523 voluntários – os indivíduos que utilizaram o aplicativo apresentaram maiores mudanças em seus traços de personalidade auto-relatados, em comparação com o grupo controle. Além das próprias anotações dos usuários, o estudo também levou em consideração a percepção de amigos, familiares e parceiros dos voluntários, que confirmaram as mudanças.

Entretanto, há alguns poréns. De acordo com os pesquisadores, as mudanças relatadas pelo observador foram significativas apenas em indivíduos que desejam melhorar características da personalidade. Já as pessoas que pretendiam minimizar algum traço não tiveram tanto sucesso.

Tal conclusão não indica necessariamente que o app não faz efeito em pessoas que buscam minimizar um aspecto de sua personalidade, mas que é mais fácil identificar quando uma característica é realçada.

Outro impasse é saber por quanto tempo a mudança permanece: digamos que você atinja seus objetivos e pare de usar o app – por quanto tempo os resultados farão efeito? Você voltará a ser o mesmo de antes após algum tempo? Tais questões são o objetivo de um novo estudo que está em desenvolvimento.

A repetição é a chave

Para Mirjam Stieger, autora do estudo, quanto mais vezes os usuários interagirem com o aplicativo e o chatbot durante o dia, mais fácil é atingir o objetivo. Além disso, Mathias Allemand, um dos pesquisadores do projeto, afirma que consultas com um terapeuta ou sessões de meditação podem ajudar durante o processo.

A grande diferença do app para um terapeuta é a conveniência, como o software está sempre à mão, é mais simples e prático manter a rotina e concluir as etapas necessárias para cumprir com seu objetivo inicial. E, é claro, o usuário deve querer mudar.

Por Ana Marques – Revista Seleções