Como será o setor de turismo após a pandemia

Veja como as empresas avaliam o cenário nos próximos meses

O turismo foi um dos setores mais afetados pela pandemia de Covid-19 e um dos primeiros a sentir os impactos negativos causados pelas políticas de restrições, cancelamento de viagens e fechamento de fronteiras.

Em dezembro de 2020, a OMT (Organização Mundial do Turismo) divulgou uma nota informando que o período entre janeiro e outubro do ano passado perdeu 900 milhões de turistas internacionais, impacto que se traduz na perda de US$ 935 bilhões em receitas.

Segundo a Fecomercio, no Brasil o setor registrou uma queda de R$ 55,6 bilhões em 2020 na comparação com 2019. O setor aéreo foi o que mais sofreu, perdendo pouco mais da metade da média de seu faturamento anual. No período, o setor, como um todo, eliminou 110 mil postos de trabalho, dos quais 87 mil foram em hotéis, agências de viagens e operadoras turísticas.

Mesmo com programas e políticas para redução e mitigação de impactos, a rede turística sentiu os efeitos da diminuição da demanda, mas, segundo Juliana Bettini, especialista em turismo no BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), a crise ofereceu a oportunidade para o setor se articular e coordenar internamente. “O turismo é um setor muito pulverizado e fragmentado, com muitas pequenas e médias empresas. Com a crise, eu vejo um movimento de maior coordenação entre os atores.”

Foto Stockphotos

Mesmo com o avanço dos planos de vacinação e a retomada gradual das atividades turísticas, o setor, principalmente no Brasil, ainda vai demorar a registrar números semelhantes aos do cenário pré-pandemia. Segundo Mariana Aldrigui, presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP, prejuízo em turismo não se recupera, porque não existe expansão da oferta. “Mesmo que haja uma demanda maior do que a capacidade de oferta, o setor sempre vai trabalhar em um limite definido de lucro. Dessa forma, é preciso que exista uma otimização da receita e uma redução drástica nas receitas operacionais.”

Para a especialista, a percepção do turismo no país ainda é frágil e parte considerável da reconstrução do setor pode acontecer se essas atividades passarem a ser vistas como fontes geradoras de emprego que movimentam a economia e que podem ajudar na recuperação da imagem brasileira. Os esforços dos diferentes níveis de governos têm papel essencial nesse sentido, já que as políticas implementadas hoje serão as responsáveis por suprir e viabilizar a demanda que surgirá no futuro.

“No turismo, há a questão de gerar receitas para populações vulneráveis que conseguem se inserir na cadeia produtiva de forma relativamente fácil e gerar aumento das receitas. Estamos em uma situação em que todo esse mecanismo fica em risco, mas isso dá a oportunidade de repensarmos os modelos de desenvolvimento dos destinos. Essa articulação entre políticas públicas e setor privado é essencial para garantir o crédito que vai fazer com que as empresas não morram e para que elas tenham o olhar no futuro”, completa Juliana.

Transformação

A pandemia criou tendências e acelerou outras no turismo. A transformação digital tem sido observada há alguns anos nas atividades turísticas e, agora, está mais forte do que nunca. Essa movimentação forçou muitas empresas de pequeno e médio portes a investirem em marketing e numa presença digital. Por outro lado, tornou os consumidores mais independentes na busca e agendamento de passagens e quartos de hotel.

Foto Divulgação

A pauta de sustentabilidade também ficou em alta nas discussões sobre retomada das atividades. As políticas de biossegurança pedem o uso de materiais descartáveis e aumentam a utilização de plásticos de uso único.

As viagens em si também sofreram transformações. Atualmente, quem opta por viajar escolhe rotas mais curtas e, consequentemente, de menor duração para diminuir a exposição ao vírus. Nesse sentido, também observa-se a busca por locais mais ligados à natureza e afastados de aglomerações. Mas, para Juliana, essa é uma tendência que pode diminuir assim que as atividades começarem a sinalizar a volta à normalidade. “Para o longo prazo, quando a população estiver amplamente vacinada, vai haver uma reversão. As pessoas vão querer ver pessoas. Então essa tendência tem prazo de validade, mas oferece uma oportunidade para os destinos de natureza.”

Por Ana Cipriano – Forbes Brasil