Macaquinhos, formigas e livros

Quando faço leituras debaixo das árvores no frescor das manhãs, ouço, por vezes, barulho na mata. Então fecho as páginas do livro e levanto-me da cadeira.

crop person reading book in park on sunny day
Foto Karolina Grabowska

Seguro então a página marcada entre os dedos e caminho pelo amplo quintal do meu sitio com livro na mão para observar macaquinhos.

Vejo-os dispostos em muitas árvores e percebo um galho pender em direção ao chão sob o peso de um deles. Ao me aproximar, repentinamente o galho é alçado as alturas novamente quando o macaquinho pula para outro galho mais distante.

Então ocorre algo extraordinário!

Vejo pequenas formigas flutuarem no vazio, fazendo uma curva no ar, planando como pássaros diminutos.

Em seguida percebo algo ainda mais extraordinário! 

Uma leve garoa de formigas que descem sobre folhas secas no chão.

Ouço os ruídos como se fossem algo ainda mais e mais extraordinário!

O ruído agora é totalmente o avesso ao da chuva. Na verdade, é o ruído do crepitar de chamas sobre pequenos gravetos secos, chego a sentir cheiro de fumaça…

Então ao observar essas manifestações da natureza o júbilo invade minha alma, lembro-me das crianças…

Constato boquiaberto que macaquinhos e formigas tem o mágico poder de trazer chuvas e desatar incêndios, possuem o dom de mudar a temperatura do ambiente e espalhar cheiros!

Ah… Se eu fosse escritor escreveria estórias e fábulas. Se fosse confessar um desejo eu diria: Como gostaria de transportar a vivacidade dos macaquinhos para páginas de livros!

Sei que elas, as páginas, não repousariam em silêncio, espremidas entre duas capas, nas estantes ou mesmo sobre mesas como de costume.

Elas se comportariam como os galhos das árvores por onde transitam bandos de macaquinhos.

Formigas voadoras declinariam para o rodapé das páginas fazendo arcos no ar.

Ouviríamos o barulho da chuva e o crepitar de chamas sobre gavetos secos no silêncio das salas…

Ah, ouviríamos assovios e gritinhos em variados tons agudos.

Então ao nos aproximarmos das estantes ou mesas onde repousam os livros, os encontraríamos inertes, porém caídos, veríamos páginas amassadas e formiguinhas espalhadas pelo chão…