Macaquices matutinas e ovos ocos

Diz a sabedoria popular que “quem chega primeiro na fonte, bebe água limpa.”

Essa sentença cumpre-se à perfeição, quando se refere à minha relação de esconde-esconde e pega-pega com os macaquinhos daqui do sítio.

Eles são os conhecidos macaquinhos prego. Acredito eu que seja pelo fato de que seus pintos finos, com sua glande chata, evocam o formato de um prego. Não sou especialista no assunto, nem formado sou em “penislogia” de macacos, sei apenas do meu, no entanto, acredito que a dimensão de seus preguinhos deva ser proporcional ao seu tamanho e ao perfeito ajuste nas caixinhas de suas macaquinhas. Aliam à essa característica, um detalhe curioso e até pitoresco: Eles são exibicionistas, gostam de mostrar e manipular os seus preguinhos ante a apreciação pública.

Não cometem o despudor de empunharem uma masturbação, mas chegam bem próximo disso. São aficionados manipuladores de seus diminutos obeliscos. Não sei precisar, ao certo, se se portam dessa maneira para exibir alguma virilidade ou se é somente para distrair e fazer rir seus contempladores, ou talvez seja a combinação das duas coisas. Sabe-se lá…

selective focus photo of monkey
Foto Cottonbro

Desculpem-me especular, mas acredito que entre os gêneros de nossa espécie, quem mais se diverte ao deparar-se com uma cena dessas, seja nossa contraparte feminina. Talvez pelo fato de as mulheres banharem seus bebês e seus pequenos pirulitos, que geralmente suscitam graça, e no caso dos pixitos insignificantes dos macaquinhos, instigam o humor do pudor feminino, que é mais acentuado do que o masculino.

O interessante é que eles fazem a performance, exibindo-se sempre com um sorriso, perceptivelmente, sarcástico no rosto, exibindo seus alvos e afiados dentinhos. Fazem isso como se estivessem posando para fotos e instantes antes do clic, dizem xis…

Eles são seres sociáveis que vivem em pequenos grupos de, aproximadamente, uma dúzia de indivíduos. Pequenos, atentos, vivazes e espertos!

Possuem hierarquia estabelecida a partir de um macho adulto alfa, um pouco maior que os demais, cuja cabeça nos faz lembrar um imponente topete à la Chuck Berry ou mesmo à la Wolverine.

Hoje cedo, ao dirigir-me ao galinheiro para colher ovos nos ninhos, percebi que havia macaquinhos em quase todas as árvores, uma multidão deles! A visão dessa profusão de vida logo no alvorecer fresco do dia, suscitou-me uma sensação de leveza e, então, suspirei satisfeito com a alma inundada de gratidão!

A natureza é realmente bela, mas também nos prega muitas peças, dando-nos dribles desconcertantes…

Ao aproximar-me do galinheiro tenho que passar pelo sombreiro de um pé de mangas. No momento que por ali passava, levei um baita susto!

Susto e surpresa simultâneos!! Um ovo despencou do alto do pé de manga, passando na lateral do meu corpo e aquietando-se no chão, ao lado dos meus pés!

Estando ainda sonolento, com meu rosto lembrando travesseiro, todo amassado, imaginei estar sob uma alucinação ou mesmo, como Salvador Dali, ou Juan Miró, estaria num transe surrealista? Então pensei: Acaso há ninhos nas nuvens ou pássaros que botam ovos voando? Num lapso de tempo, ocorreu-me se estava realmente sendo alvo de um bombardeio de cuzinhos arremessando ovos sobre minha cabeça, já que, no instante seguinte, outro ovo, lembrando um projetil, cai do meu outro lado!

Então, tentei me recompor, mas, ainda confuso, me perguntei: Tem ninhos de pássaros no alto da mangueira ou ela produziu ovos em vez de mangas?

Quando olho para cima, adivinhem o que vejo? Avisto um macaquinho rindo para mim ou rindo de mim. Não saberia responder-lhes se uma coisa ou outra. Talvez zombasse de mim e dissesse: Perdeu brutamonte, perdeu!!
Entretanto, não demoraria a saber…

O interessante é que os ovos não se espatifaram no chão, mas permaneceram inteiros ou quase inteiros! Ao me abaixar e pegar um ovo, notei apenas um buraquinho na ponta mais afunilada de um deles. Os ovos estavam ocos! Não tinham mais seus conteúdos, foram bebidos! Eram só a casca vazia dos mesmos!

Só então compreendi que cheguei tarde na fonte. Não havia mais ovos nos ninhos do galinheiro. Os macaquinhos haviam acabado de tomar seu nutritivo café da manhã!

Recuperei, então, minha lucidez e percebi que não havia ninhos em nuvens, nem bombardeios aéreos de cuzinhos, cuspindo ovos sobre minha cabeça ou mesmo mangueiras empenadas que produzissem ovos em vez de mangas…

Naquele instante, uma decisão firmei comigo mesmo: Amanhã acordarei mais cedo para beber água limpa na fonte e, enquanto as galinhas não botam, esperarei numa cadeira, folhearei as páginas de Dom Quixote de La Mancha, o grande sonhador. Terei tempo de reler sua primeira batalha contra os moinhos de vento e seu lamentável revés. E, nesse jogo de pega-pega e esconde-esconde com os espertos macaquinhos prego, ei de ser mais rápido.
Da próxima vez, serei o primeiro a chegar no pique…

Há um outro ditado popular que diz que ” nada melhor do que um dia após o outro”.
Portanto…amanhã estaremos quites. Empatarei esse jogo…

E, por tanto falar em ovos…que tal, amigos, vamos de omeletes no almoço de amanhã??