É mais provável que trabalhadores tenhamos que escolher o modelo que mais se encaixa nas suas necessidades
Muito tem sido escrito sobre as enormes mudanças em nossas vidas profissionais durante os últimos dois anos – impulsionadas, é claro, pela necessidade e preocupações com a segurança. Em 2022, a pandemia ainda é um fato na vida de muitos de nós. Entretanto, é justo dizer que aprendemos a nos adaptar a novos padrões de comportamento e expectativas à medida que fazemos nosso trabalho. Se estamos entre os milhões de “trabalhadores do conhecimento” que se encontram com mais liberdade para escolher quando e onde trabalhar, então, esperançosamente, estamos aproveitando ao máximo a oportunidade para encontrar um equilíbrio melhor entre a vida pessoal e profissional.
Claro, por mais que ainda exista muito o que escrever sobre a mudança generalizada dos escritórios e locais de trabalho centralizados, há muitas ocupações e profissões onde isso simplesmente não é uma opção. Para os trabalhadores da linha de frente em saúde, varejo, ensino, transporte e segurança – entre muitos outros setores – palavras-chave como “local de trabalho híbrido” provavelmente têm muito pouco impacto em seu cotidiano. Mas é improvável que eles permaneçam imunes por outras tendências desta lista, já que a tecnologia abre a oportunidades de explorar novas formas de trabalhar e continua a redefinir o relacionamento entre nós e nossos ambientes de trabalho.
Quando se trata de onde trabalhamos, continuará a haver três modelos principais: locais de trabalho centralizados, organizações remotas descentralizadas e a abordagem híbrida do “melhor dos dois mundos”. O que provavelmente mudará em 2022 é que é mais provável que nós, como trabalhadores, tenhamos a escolha de escolher o modelo que mais se encaixa nas nossas necessidades em vez de sermos forçados a nos alinhar com o modelo que sua organização tenha escolhido por necessidade.
As organizações estão claramente passando por uma mudança em seu relacionamento com a ideia de um local de trabalho centralizado. No auge da pandemia em 2020, 69% das grandes empresas esperavam uma redução geral na quantidade de espaço de escritório que ocupariam, de acordo com uma pesquisa da KPMG.
As estruturas híbridas vão desde empresas que mantêm escritórios centralizados permanentes com hot-desking para acomodar o fato de que a equipe trabalhará mais frequentemente remotamente, até a eliminação total dos escritórios e contando com espaços de coworking e salas de reuniões com serviços para apoiar as necessidades de uma força de trabalho remota.
Um relatório recentemente encomendado pela plataforma de mensagens de vídeo Loom descobriu que 90% dos funcionários entrevistados – incluindo trabalhadores e gerentes – estão mais felizes com a maior liberdade que agora têm para trabalhar em casa, sugerindo que essa é provavelmente uma tendência que veio para ficar à medida que avançamos para 2022.
Inteligência artificial
O Fórum Econômico Mundial prevê que a inteligência artificial e a automação levarão à criação de 97 milhões de novos empregos até 2025. No entanto, as pessoas que trabalham em muitos empregos existentes também verão suas funções mudando. Isso acontecerá pois cada vez mais se espera que essas organizações aumentem suas próprias habilidades com a tecnologia de IA.
Inicialmente, essa IA será usada principalmente para automatizar elementos repetitivos de suas funções do dia a dia e permitir que os trabalhadores se concentrem em áreas que requerem um toque mais humano – como a criatividade, a imaginação, a estratégia de alto nível ou a inteligência emocional, por exemplo. Alguns exemplos incluem advogados que usarão tecnologia que reduz o tempo gasto na revisão de históricos de casos a fim de encontrar precedentes e médicos que terão recursos de visão computacional para ajudá-los a analisar registros e exames.
No varejo, a análise aumentada ajuda os gerentes de loja com planejamento de estoque e logística e auxilia os assistentes de vendas a prever o que os clientes individuais estarão procurando quando entrarem pela porta. Já os profissionais de marketing têm uma gama cada vez maior de ferramentas à sua disposição para ajudá-los a direcionar campanhas e segmentar públicos. E nas funções de engenharia e manufatura, os trabalhadores terão cada vez mais acesso à tecnologia que os ajuda a entender como as máquinas funcionam e prever onde as avarias podem acontecer.
Desenvolva resiliência
Antes da pandemia, a prioridade era geralmente contratar funcionários que criassem organizações eficientes. Durante a crise sanitária e na pós-pandemia, a ênfase mudou firmemente na direção da resiliência. Embora possuir habilidades redundantes ou sobrepostas possam ter sido vistas anteriormente como algo ineficiente, hoje elas são vistas como uma precaução sensata.
Isso certamente abrange outra subtendência, que é que os empregadores estão começando a entender a importância crítica de incluir estratégias de saúde e bem-estar (incluindo saúde mental) em seu planejamento de negócios. Muitos agora estão tentando assumir mais responsabilidade em ajudar sua força de trabalho a manter o bem-estar físico, mental e financeiro. Um desafio que as empresas enfrentarão em 2022 é encontrar maneiras de fazer isso de forma que atinjam seus objetivos sem serem excessivamente intrusivos ou invasivos na privacidade e na vida pessoal dos funcionários.
Garantir que uma força de trabalho seja saudável o suficiente para manter um negócio funcionando é claramente um elemento crítico de resiliência, mas também abrange a implementação de processos mais flexíveis, com redundâncias integradas para fornecer cobertura quando ocorre um desastre, resultando em comprometimento da eficiência operacional . Esses processos certamente desempenharão um papel cada vez mais importante na vida cotidiana dos trabalhadores à medida que avançamos em 2022.
Menos foco nas funções, mais foco nas habilidades
O Gartner diz: “Para construir a força de trabalho necessária no pós-pandemia, concentre-se menos nas funções – que agrupam habilidades não relacionadas – e mais nas habilidades necessárias para impulsionar a vantagem competitiva da organização e os fluxos de trabalho que alimentam essa vantagem.”
As habilidades são críticas porque abordam os principais desafios do negócio, agrupando as competências necessárias na força de trabalho para superar esses desafios. As funções, por outro lado, descrevem a maneira como os membros individuais de uma força de trabalho se relacionam com uma estrutura ou hierarquia organizacional geral. Certamente, vimos essa tendência se gestando há algum tempo, com a mudança em direção a estruturas organizacionais mais “planas” em oposição a equipes estritamente hierárquicas com subordinação direta e abordagem de cadeia de comando para comunicação e resolução de problemas. Ao focar nas habilidades, as empresas abordam o fato de que resolver problemas e responder às suas questões de negócios centrais é a chave para impulsionar a inovação e o sucesso nas empresas da era da informação.
Do ponto de vista do trabalhador, focar no desenvolvimento de suas habilidades, em vez de desenvolver ainda mais suas competências com o fim de desempenhar sua função, o deixa melhor posicionado para capitalizar novas oportunidades de carreira. Essa mudança de foco, deixando as funções em segundo plano e colocando as habilidades nos holofotes, provavelmente será uma tendência importante tanto para organizações, quanto para trabalhadores durante 2022.
Monitoramento dos funcionários
Por mais controverso que seja, a pesquisa mostra que os empregadores estão cada vez mais investindo em tecnologia projetada para monitorar e rastrear o comportamento de seus funcionários a fim de aumentar a eficiência. Plataformas como o Aware, que permitem às empresas monitorar o comportamento por e-mail e ferramentas como o Slack para medir a produtividade, estão sendo vistas como particularmente úteis por gerentes que supervisionam forças de trabalho remotas. Baseia-se na funcionalidade criada por produtos anteriores, como o Microscópio de Negócios da Hitachi, que rastreia os movimentos da equipe em torno dos prédios de escritórios físicos e pode ser usado para monitorar, entre outras coisas, a frequência de pausas para ir ao banheiro e quais trabalhadores passam a maior parte do tempo conversando para os outros em vez de sentar em sua estação de trabalho.
Claro, parece que seria fácil para as empresas usar essas ferramentas de uma forma que seria vista como autoritária ou intrusiva por seus funcionários e, em minha opinião, isso seria claramente uma receita para o desastre. No entanto, pelo menos ostensivamente, a ideia é usá-los para obter amplos pontos de vista sobre o comportamento da força de trabalho, em vez de focar nas atividades dos indivíduos e usá-los como ferramentas para impor a disciplina. As empresas que investem nessa tecnologia têm uma linha tênue a trilhar, e ainda não se sabe se o efeito líquido será um aumento na produtividade ou um “efeito inibidor” nas liberdades individuais. Se for o último, é improvável que termine bem para as empresas envolvidas. No entanto, para o bem ou para o mal, parece provável que esse tipo de tecnologia desempenhe um papel cada vez mais importante no local de trabalho durante 2022.
Por Bernard Marr – Forbes Brasil