Como James Cameron desafiou as fronteiras tecnológicas em Avatar 2

Filme trouxe novos avanços tecnológicos, com o diretor James Cameron novamente revolucionando o cinema

Avatar: O Caminho da Água chegou aos cinemas em dezembro e vem conquistando cada vez mais a audiência com mais uma obra de James Cameron que quebrou barreiras e desafiou a tecnologia voltada ao cinema. Um destaque do filme que leva Jake Sully, Neytiri e seus filhos para ao lado de um novo clã foi a interpretação dos atores debaixo d’água.

A família Sully vive de forma harmônica em Pandora, até uma nova ameaça forçá-los a se juntar ao clã dos Metkayina, um povo que possui uma conexão profunda com o mar. Por isso, a trama apresentou aos cineastas um desafio inédito: desenvolver as filmagens em ambientes aquáticos. Assim, a equipe se propôs mais uma vez a revolucionar o uso da tecnologia cinematográfica.

Mais uma vez porque o Avatar de 2009 trouxe a técnica revolucionária de “captura de atuação facial baseada na imagem” para dar vida aos personagens gerados por computador da maneira mais realista. Para isso, foi desenvolvido um novo sistema utilizando uma câmera presa na cabeça dos atores para registrar com precisão as menores nuances de suas performances faciais, sobretudo o movimento dos olhos, o que não acontecia com os sistemas anteriores.

Essa informação foi então processada pela equipe de efeitos visuais, que desenvolveu a tecnologia necessária para fazer os personagens em CGI demostrarem as emoções exatamente como seus respectivos atores.

Já em Avatar: O Caminho da Água e suas sequências, o sistema anterior foi substituído por duas câmeras de alta definição projetadas para registas a interpretação com mais fidelidade e sutileza. No início da produção, Cameron e sua equipe se reuniram para discutir como abordariam o novo desafio de fazer a captura da ação debaixo d’água.

James Cameron explica as gravações embaixo d’água

Foto Mark Fellman/20th Century Studios

“O mais importante era poder filmar debaixo d’água e na superfície para que os personagens estivessem nadando, saindo da água e mergulhando. Parece real porque a captura do movimento foi real. E a emoção foi real”, explicou Cameron.

Para isso, foi construído um tanque gigantesco com mil metros cúbicos de água que funcionava como o cenário subaquático para captar a performance dos atores. “Isso se tornou nosso sistema completo de batalha. Podíamos fazer ondas que quebrassem na praia e fazer com que as pessoas saíssem da água com as ondas batendo nelas. Podíamos gerar interação entre as ondas, as criaturas e as pessoas que vinham à tona”, descreve o diretor.

Mas um obstáculo logo surgiu: rapidamente, a equipe de Avatar 2 percebeu que a tecnologia de captura da atuação só funcionaria debaixo d’água se esta fosse completamente cristalina. Isso significava que os cinegrafistas não poderiam usar equipamento de mergulho durante as filmagens, uma vez que eles criam bolhas. “Cada uma dessas bolhas funciona como um minúsculo espelho distorcido. O sistema que está tentando ler todos os sensores do corpo do ator para capturar o movimento não consegue distinguir os sensores das bolhas”, explica o diretor James Cameron.

Foto Mark Fellman/20th Century Studios

Esta restrição fez com que todos tivessem que prender a respiração dentro do tanque, incluindo técnicos de iluminação, cinegrafistas e os próprios atores. Daí os recordes de tempo gravando embaixo d’água dos atores.

As filmagens de Avatar: O Caminho da Água começaram em setembro de 2017 e duraram 18 meses. James Cameron explicou o processo: “Não há nada para distraí-los. Nós filmamos. Às vezes gravamos por 10 ou 12 minutos seguidos. É uma fonte de criatividade e eu, como diretor, estou muito mais em sintonia com os estados emocionais dos atores”.

Para que o elenco atuasse debaixo d’água e se adaptasse às condições exigidas pela tecnologia utilizada, os cineastas recorreram a Kirk Krack, especialista mundialmente reconhecido em mergulho livre, modalidade baseada na suspensão voluntária da respiração na água enquanto percorrem longas distâncias ou descem grandes profundidades.

Com o registro das interpretações concluído, Cameron e a equipe de edição usaram sua revolucionária câmera virtual, um recurso que permite ao diretor filmar cenas dentro de seu mundo gerado por computador como se estivesse filmando no local ou em um set em Hollywood. “Eu podia vê-los onde precisavam estar, debaixo d’água ou fora, e podia falar com eles através do sistema de comunicação de mergulho. Eles atuavam com direção em tempo real com base no que eu via na câmera virtual”, diz Cameron.

O diretor ainda afirma que o elenco gostou muito do processo e todos se mostraram ótimos mergulhadores livres, principalmente a atriz Kate Winslet, que interpreta a personagem Ronal, matriarca do clã Metkayina. “Kate adorou a liberdade de poder atuar debaixo d’água. Ela conseguiu prender a respiração por uns 7 minutos e 20 segundos. Eu faço mergulho livre há 50 anos e acho que o máximo que consegui prender a respiração foi 5 minutos e meio”, conta James Cameron.

A quebra de barreiras tecnológicas em Avatar 2

Um Tulkun em “Avatar: O Caminho da Água”. Foto 20th Century Studios

A parte final do processo de criação das imagens aconteceu na Nova Zelândia, mais precisamente no estúdio de efeitos visuais do cineasta vencedor de Oscar Peter Jackson. Semelhante ao Avatar de 2009, os artistas do estúdio trabalharam para continuar dando vida aos Na’vi, preservando todas as nuances e sutilezas da atuação.

“Para mim, tudo se resume aos personagens e a capacidade de estar com eles, de estar no momento com eles, ver suas ações, entender o que estão sentindo e o que está acontecendo com eles. Sempre na busca por essa conexão emocional”, diz o supervisor de efeitos visuais Joe Letteri.

O estúdio criou digitalmente novos cantos do cativante mundo de Pandora a um nível sem precedentes. O estúdio atingiu novas fronteiras em iluminação, sombreamento e renderização, produto de cinco anos de pesquisas e desenvolvimento de novos softwares e metodologias para a sequência.

Cameron conclui: “Tivemos que descobrir como a água se move quando uma criatura gigantesca desloca toneladas de água com suas barbatanas, ou quando a menor gota de chuva cai na testa de alguém, escorrendo pela sobrancelha e pela bochecha. É uma questão extraordinariamente complexa, mas o mais bonito é que, se você conseguir resolver o tema da água para este filme, poderá fazer tudo na água a qualquer momento até o fim dos tempos. Portanto, estas ferramentas se tornam extremamente importantes para a indústria de efeitos em geral”.

Por Olhar Digital