Quando a privatização atende ao interesse público?

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Foto Pok Rie

Estudo de caso de Mestre em Planejamento Energético elucida realidade do desmonte de serviços públicos essenciais no Brasil

Até que ponto as propriedades e serviços públicos devem ser geridos pela iniciativa privada? Pode a privatização parcial ou total de uma empresa estatal servir aos objetivos de desenvolvimento regional do Estado? Como deveria ser conduzido o processo de privatização, de forma a atender o interesse público? Um estudo de caso apresentado pelo engenheiro elétrico Salatiel Pedrosa Soares Correia contribui para elucidar a realidade das privatizações no Brasil, a partir de um caso concreto do setor elétrico.

Salatiel Correia. Foto Arquivo Pessoal

Em O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia, o autor reconstitui os processos históricos daquela que chegou a ser a maior estatal goiana, desde a fundação, em 1956, até a total descapitalização da empresa. Ex-funcionário da Companhia Energética de Goiás, hoje aposentado, Salatiel reuniu, ao longo de 20 anos, documentos e dados que comprovam como o forte clientelismo político e a ausência de um plano estratégico de desenvolvimento desencadearam um profundo desequilíbrio econômico da Celg, justificando a privatização.

Dividida em duas partes, a obra dialoga com públicos distintos. Os primeiros sete capítulos e sua conclusão partem da contextualização histórica a partir da onda neoliberal do pós-guerra fria até chegar a privatização do parque gerador, a Usina Hidroelétrica de Cachoeira Dourada. Elucidações perfeitamente compreensíveis a pessoas interessadas em conhecer um dos maiores casos de sucateamento de um serviço público em benefício do capital estrangeiro.

Já a segunda parte é constituída de apêndices de conteúdo técnico, dirigida especialmente a profissionais do setor, com projeções econômico-financeiras em diferentes cenários. Os resultados do trabalho apontam a necessidade de um aporte de R$ 2 bilhões para recuperar a perda patrimonial que a empresa sofreu e, de fato, equilibrar-se econômica e financeiramente. A esse valor somam-se outros R$ 332 milhões, valor das dívidas que o Estado teve de assumir por conta de contratos de compra de energia sobredimensionados.

Segundo o autor, o processo de privatização da Celg, distante do interesse público e marcado por erros e devaneios, reflete a realidade de países periféricos do capitalismo mundial, sustentados pela política de clientela. “O livro ajuda a entender as privatizações nos porões onde ela ocorre. É uma luz para entender o que aconteceu no resto do Brasil”, comenta o mestre em Planejamento Energético pela Unicamp.

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Foto Pixabay

Em meio a movimentos privatistas no país, a exemplo da Eletrobras, maior companhia elétrica da América Latina, e outras negociações em curso, como os Correios e a própria Petrobras, O capitalismo mundial e a captura do setor elétrico na periferia apresenta uma análise minuciosa da realidade dos serviços públicos no Brasil, que caminha na contramão de países da Europa, como a França, prestes a nacionalizar completamente a empresa de energia, EDF.

Sobre o autor: Salatiel Pedrosa Soares Correia é goiano, nascido na cidade de Piracanjuba. Mestre em Planejamento Energético pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é formado em engenharia Elétrica e Administração de Empresas. Trabalhou na Celg (Companhia de Distribuição do Estado de Goiás), antiga estatal do estado, por mais de 30 anos.

Na área de humanas, é um grande admirador da literatura nacional e mundial. Já foi articulista em jornais importantes dos estados de Goiás, Tocantins e Minas Gerais. É autor de oito livros, cujos temas englobam política, energia, desenvolvimento regional e literatura.