Números do Banco Central mostram que o custo do crédito livre (ICC recursos livres) apresenta uma elevação contínua desde 2021
Não é novidade que o crédito está mais difícil e mais caro, especialmente para pessoas físicas e aqueles que tocam pequenos e médios negócios, na esteira do cenário de maior incerteza que se instalou ao longo de 2022 e início de 2023. A combinação dos efeitos defasados decorrente das ações de suporte à demanda agregada durante a pandemia, ao choque nos preços das principais commodities devido a guerra entre Rússia e Ucrânia, e por fim, no âmbito interno com a crescente percepção de déficits fiscais maiores no médio prazo, resultam em uma atuação firme do Banco Central, que busca manter a ancoragem das expectativas e trazer a inflação para o centro da meta no médio prazo.
Naturalmente, ao longo do processo, há um aperto de liquidez, o custo do capital se eleva, a concessão de crédito diminui e impacta todas as etapas das cadeias produtivas, com consequente redução do consumo e produção. Números do Banco Central mostram que o custo do crédito livre (ICC recursos livres) apresenta uma elevação contínua desde 2021, ultrapassando em 2023 o patamar dos 30% ao ano.
Ainda, dados de uma pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que 37% dos brasileiros acreditam que o acesso ao crédito está mais difícil. Ainda assim, muitos microempreendedores têm recorrido a empréstimos pessoais como alternativa para financiar suas empresas. O levantamento “Financiamento dos Pequenos Negócios no Brasil”, que neste ano ouviu mais de 6 mil empresários em todo o país, destaca que 60% dos micronegócios têm conseguido recursos como pessoa física em vez de jurídica.
Em paralelo a esse cenário desafiador, vale ressaltar que nos últimos anos houve um crescimento não desprezível de players financeiros alternativos aos gigantes e tradicionais bancos. Uma onda de fintechs, dos mais diversos perfis, têm desenvolvido soluções alternativas que visam dar vazão à grande demanda por crédito por parte de empreendedores. Se posicionar como parceiro financeiro de seus clientes, na onda do Open Finance, tem sido uma estratégia adotada por muitas empresas, que veem uma oportunidade de atender de forma mais eficiente às demandas de diversos nichos de mercado em relação aos players incumbentes, e aumentar o leque de serviços fornecidos. Este, inclusive, é um movimento que temos adotado internamente no Bling, onde estamos atuando para desenvolver ofertas voltadas exclusivamente para os empreendedores. Trata-se de uma lacuna que pretendemos preencher.
A “fintechzação” tem promovido uma maior democratização financeira e otimizado cada vez mais processos para os empreendedores. Agora o desafio está em integrar de forma natural o mundo operacional e o das transações financeiras, além de evidenciar de forma prática e concreta os benefícios possíveis aos pequenos negócios.
Do ponto de vista do ambiente econômico, ainda que timidamente, há uma perspectiva de desaceleração da inflação nos próximos meses, que poderia ajudar no processo de redução do custo do crédito. Apesar disso, tais mudanças podem demorar a se refletir na atividade econômica e na realidade dos pequenos negócios. É importante que os empreendedores estejam atentos, com planos de ação estabelecidos e abram espaço para as alternativas que se consolidam a sua volta como novos parceiros de negócio.
Por Marcelo Navarini
Diretor do Bling, sistema de gestão da Locaweb Company. O executivo é Administrador e Mestre em Economia Internacional. Antes do Bling, Navarini atuou como Investment Officer na CRP Cia de Participações, em transações de Venture Capital e Private Equity, além de outras experiências em empresas do setor financeiro e de bens de consumo. Atualmente acumula, também, o cargo de Diretor de Operações da Pagcerto.