As mídias sociais e os pseudodiagnósticos

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Diagnóstico é coisa séria e não é feito com base em experiências pessoais

Tem chegado para atendimento, uma certa demanda que tem me gerado curiosidade. São pessoas que procuram atendimento neuropsicológico depois de consumir conteúdo das redes sociais, feitos por não especialistas no assunto. Geralmente os produtores desses conteúdos se descrevem com tais diagnósticos e os explicam com base em seu próprio cotidiano.

Você já se distraiu durante uma explicação? Já perdeu ou esqueceu coisas? Já disse que não ia usar o cartão de crédito naquele mês e de repente sua loja favorita entrou em promoção e não deu para segurar? Já se sentiu ansioso por algo que ia acontecer? Já fez lista de pendências mentalmente enquanto conversava com alguém e sorriu sem entender nada do que foi dito? Imagino que todos nós já passamos por isso e nem por isso é possível que todos tenhamos o diagnóstico de TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade ou mesmo ansiedade.

Diagnóstico precisa cumprir critérios, que entre tantas coisas, precisa trazer prejuízos reais devido sua frequência e intensidade. Obter um diagnóstico dá sentido às queixas, tem o poder de direcionar tratamento e trazer qualidade de vida, clareia caminhos e organiza funcionamento. Diagnóstico une equipes profissionais em sentido único com intervenções globais. Definitivamente, não é aleatório.

Roberta Alonso. Divulgação

Uma das coisas mais gratificantes da minha atuação é a troca interdisciplinar que acontece para fechar um diagnóstico. Direcionar um tratamento que potencializa resultados é um presente! Ver uma evolução então, é daquelas coisas inexplicáveis.

Diagnóstico mal feito a partir de evidências erradas, pode inclusive neutralizar uma força importante no tratamento: a autorresponsabilidade. “Ter” algo não é uma sentença, porque apesar de ter é possível evoluir. O esforço é quase nulo quando o “ter” vira o protagonista da história.

A internet aceita qualquer coisa de qualquer pessoa. Em milésimos de segundos temos acesso a muita informação sobre tudo, mas filtrá-las exige esforço cognitivo e isso já leva tempo e sabemos o que acontece. É preciso ao menos ter um cuidado inicial com o conteúdo que consumimos, principalmente sobre quem o produz. Posso ser simplista na ideia, mas enquanto conteúdos superficiais surgem aos montes nas redes, os especialistas estão atendendo incansavelmente as pessoas que acreditam ter algo e como o dia tem apenas 24h, não sobra tempo para combater tantas informações erradas.

Fique atento.

Por Roberta Alonso

Psicóloga e neuropsicóloga infantojuvenil. Autora do livro infantil “Pó de Sim” (Asinha) e coautora das obras “Manual da Infância”, “Disciplina e Afeto” e “Orientação Familiar – vol. 2” (Literare Books International). Instagram: @ecoandopsicologia