Diversidade: crucial para o surgimento das ideias

A história de Aina Wifalk, criadora do andador com rodas, serve de inspiração para as mulheres de hoje

O mercado global de ajuda à mobilidade foi avaliado em 2,2 bilhões de dólares. Número que deve crescer rapidamente nas próximas décadas, conforme a população fica mais idosa e nossa percepção da velhice muda.

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Nesse contexto de mudanças, invenções como as de Aina Wifalk, criadora do andador com rodas, em 1978, teve e ainda tem um grande impacto no mundo. Mas não se pode dizer o mesmo do impacto na própria conta bancaria da inventora. Ela contraiu pólio na juventude, o que mudou drasticamente todos seus planos de vida. Ao mesmo tempo, a fez pensar sobre como andar pelo mundo, diante das limitações motoras.

Hoje, não existe uma fundação “Wifalk” de subvenções a empreendedores que tenham deficiências ou que financie pesquisas para projetos de acessibilidade. Afinal, o pouco dinheiro ganhado por Aina Wifalk com a invenção, foi deixado como legado para a igreja sueca da Costa do Sol.

O problema de Aina Wifalk era que não tinha posses, o que significava que não conseguia fazer sua ideia render dinheiro. Sim, ela conseguiu produzir um ou dois andadores com rodas para si mesma, melhorou o design com algumas prateleiras de geladeira e passeou com eles para cima e para baixo pelas ruas de Vasterás seguindo a rotina diária.

Porém, para tornar isso um produto de exportação que pudesse ser lançado globalmente, seria necessário uma soma muito maior de dinheiro – que ela não tinha. Nem parecia haver alguém que quisesse investir nela. E Aina tinha perfeita consciência disso: “Quem iria me escutar, uma senhora com deficiência no meio de todos os rapazes?”

E, ainda por cima, ela nunca patenteou o andador com rodas. Em vez disso, vendeu sua ideia por algo equivalente a 750 libras nos dias de hoje e royalties de 2% nas vendas daquele produto em particular. Mais tarde admitiu que “quase foi boa demais.” Uma forma de reconhecer a oportunidade tirada.

Hoje é provável que alguém lhe indicasse um curso de empreendedorismo feminino, lhe dissesse para “aceitar o desafio”, “fazer sua voz ser ouvida” e “acreditar em si mesma”. Talvez lhe desse um livro de técnicas de negociação ou ajudasse a montar um pitch excelente.

No entanto, não se trata disso, mas de todo o sistema financeiro. E de como ele exclui sistematicamente as ideias das mulheres.

Por Katrine Marçal

Jornalista e escritora, autora da obra “Mãe das invenções”, da Alaúde Editora.