O açúcar, por exemplo, tem sido estudado por suas ligações com graves problemas de saúde
A definição de “droga” é complexa, englobando substâncias com usos medicinais e recreativos. Açúcar, álcool, cigarro e maconha são exemplos notáveis, cada um com efeitos e implicações para a saúde distintos.
O açúcar, elemento comum na dieta contemporânea, tem sido objeto de estudo por suas ligações com graves problemas de saúde. Pesquisadores apontam que o consumo exagerado de açúcar contribui para a prevalência de obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e doenças neurodegenerativas. O açúcar impacta diretamente o sistema de recompensa cerebral, incentivando repetições de comportamentos que proporcionam prazer, liberando dopamina. Esse ciclo, aparentemente inofensivo, pode evoluir para um hábito ou mesmo um vício, onde a ausência do estímulo doce gera frustração e irritabilidade, indicando uma dependência comportamental.
O álcool, socialmente aceito em muitas culturas, apresenta riscos substanciais. Com mais de 200 doenças e lesões a ele associadas, é responsável por danos severos a órgãos vitais, como fígado e cérebro, e está associado a um aumento nos comportamentos violentos, acidentes de trânsito e dependência. Também tem um impacto genético, pois potencializa a possibilidade de expressão de genes ligados a doenças neurológicas. Além disso, o consumo de álcool durante a gravidez pode causar danos irreversíveis ao feto, resultando em uma gama de deficiências no desenvolvimento conhecidas como transtornos do espectro alcoólico fetal.
O cigarro, um dos produtos mais vendidos globalmente, contém uma lista extensa de substâncias químicas prejudiciais. Com mais de 4.500 compostos químicos, muitos dos quais carcinogênicos, o cigarro reduz a oxigenação dos órgãos, potencializando o risco de aproximadamente 50 doenças diferentes. A fumaça do tabaco afeta não só o fumante, mas também aqueles ao seu redor, com estatísticas indicando milhões de mortes por ano devido à exposição ao fumo passivo. Está também diretamente relacionado a doenças cardíacas, múltiplas formas de câncer e enfermidades pulmonares. A dependência de nicotina é um dos maiores obstáculos para quem busca abandonar o tabagismo, sendo essa substância uma das mais viciantes conhecidas.
Em contraponto, a maconha, especificamente através de seu componente, o cannabidiol (CBD), tem demonstrado um potencial terapêutico significativo. O CBD não tem efeitos psicoativos e tem sido estudado por seu potencial em tratar condições como epilepsia, ansiedade e sintomas de transtornos psiquiátricos. O CBD é também valorizado por suas propriedades anti-inflamatórias, o que o torna útil no tratamento da dor crônica e de condições inflamatórias.
A regulamentação da maconha para fins medicinais tem avançado em várias partes do mundo, um reflexo da crescente compreensão de seus benefícios terapêuticos. Esse avanço destaca um contraste com as políticas mais permissivas em relação a substâncias como álcool e tabaco, que, apesar de seus riscos bem documentados, continuam amplamente acessíveis.
A percepção pública em relação à maconha está em evolução, com um reconhecimento crescente de seu valor medicinal. Pesquisas continuam a explorar suas aplicações terapêuticas, buscando entender melhor sua eficácia e segurança.
A comparação entre essas substâncias revela uma incongruência nas políticas de saúde pública. Enquanto álcool e tabaco, com seus riscos conhecidos, são acessíveis legalmente, a maconha enfrenta barreiras significativas para seu uso medicinal.
A categorização de uma substância como “droga” é frequentemente influenciada por fatores históricos, culturais e políticos, não refletindo necessariamente seu potencial de risco ou benefício. A maconha medicinal é um exemplo de como a reavaliação dessas classificações pode resultar em avanços significativos na saúde pública.
A discussão sobre drogas e sua regulamentação precisa de uma abordagem embasada em evidências científicas. Isso implica reconhecer os riscos associados ao açúcar, álcool e tabaco e valorizar os benefícios potenciais de alternativas como a maconha medicinal.
Em suma, a natureza de uma “droga” é um conceito multifacetado e complexo. Avaliar cada substância individualmente, considerando seus efeitos, riscos e benefícios potenciais, é crucial para uma política de saúde pública equilibrada e informada. A maconha medicinal, em particular, destaca-se como um campo promissor para pesquisa e tratamento de uma variedade de condições de saúde, desafiando as percepções tradicionais e incentivando uma reavaliação das políticas de drogas. Com uma análise criteriosa e baseada em evidências, podemos avançar em direção a uma abordagem mais holística e benéfica na gestão das substâncias consideradas drogas, equilibrando os aspectos terapêuticos e os riscos potenciais para a saúde e o bem-estar da sociedade.
Por Dra. Maria Klien
Psicóloga, especialista e empresária no campo da cannabis medicinal, formada em terapia assistida. Especializada em transtornos de ansiedade e medo, onde combina terapias tradicionais com o uso de cannabis medicinal. Como empresária, trabalha para tornar a planta uma ferramenta acessível e eficaz para o bem-estar emocional.