Segundo especialistas, tanto escassez hídrica quanto excesso de chuvas provocados pelo El Niño devem reduzir a produção
Tanto a escassez hídrica como o excesso de chuvas na colheita, causados pelo fenômeno do El Niño, devem reduzir a produção de soja no Brasil. Conforme a Aprosoja-Brasil, a safra de 2023/2024 está em 135 milhões de toneladas. O número é menor do que tem sido divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – 155,3 milhões de toneladas.
Já o quinto levantamento da consultoria Datagro estimou a safra de soja do Brasil em 148,55 milhões de toneladas. O número caiu 2,8% em comparação com a pesquisa anterior.
O doutor em Agronomia, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador da Equipe FieldCrops, Alencar Junior Zanon, explica que as mudanças climáticas devem comprometer a safra de 2023/2024.
“Nessa safra, em específico, o El Niño provocou uma alteração do regime hídrico, principalmente no mês de novembro, início de dezembro. Pensando em Mato Grosso, essa irregularidade e a baixa precipitação no mês de novembro e dezembro fez com que as cultivares precoces tivessem produtividades muito baixas. E quem plantou em setembro no Mato Grosso colheu muito pouca soja porque pegou muito pouca chuva. Se pensar no Nordeste, já é esperado que chova menos, pensando na Bahia, uma parte do Maranhão”, explica.
De acordo com a Aprosoja-MT, a safra de soja 2023/24 em Mato Grosso deve apresentar uma redução de 9,56 milhões de toneladas em relação à safra 2022/23.
Para a região Sul do Brasil, também há expectativa de redução na produtividade, como ressalta o professor. “A configuração do El Niño, teoricamente para o sul do Brasil, era boa. E esse ano, pensando no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, em virtude dessa seca, dessa estiagem que está ocorrendo, acabou que vai comprometer a expectativa da safra”, explica.
Principal cultura de verão do Rio Grande do Sul, a soja possui uma área plantada de mais de 6 milhões de hectares. Em 2023, o estado colheu cerca de 12 milhões de toneladas da oleaginosa. Para a safra 2023/2024, a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG-RS) estima uma colheita de 21 milhões de toneladas.
Exportação da soja no Rio Grande do Sul
A soja em grão foi o produto mais exportado no Rio Grande do Sul em 2023. O produto representa 18,2% da participação total das exportações do agronegócio gaúcho, gerando US$ 4,05 bilhões. Os dados são do Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à SPGG-RS.
Conforme a secretaria, em torno de 90% da soja colhida no estado é vendida ao exterior, principalmente para a China – mais US$ 644,8 milhões, o que representa 22,9%. Em seguida, aparecem o Iraque (mais US$ 59,4 milhões) e Bangladesh (mais US$ 52,3 milhões).
Segundo a SPGG-RS, quase todos os municípios gaúchos plantam alguma porção da oleaginosa, sendo Dom Pedrito, Rio Pardo, Cachoeira do Sul, São Gabriel e Palmeira das Missões os maiores produtores. Aproximadamente 12.000 empregos formais nos estados no estado estão relacionados ao cultivo e manejo da soja.
O pesquisador do Departamento de Economia e Estatística da Secretaria, Sérgio Leusin Jr., ressalta que a soja desempenha um impacto significativo na geração de renda no estado.
“A agropecuária é responsável por mais de 30% da atividade econômica em 268 municípios gaúchos. Sendo a participação da agropecuária superior a 50% da atividade econômica em 73 municípios do Rio Grande do Sul. Em geral, esses municípios integram as economias regionais por meio da oferta de produtos finais e de matéria-prima para a agroindústria e demanda um variado conjunto de bens e serviços agropecuários e também não agropecuários”, diz.
Fonte: Brasil 61