Deus nos ajude

Do “Subḥān Allāh” árabe, “Shalom” judeu, “Aleluia” protestante, “Amém” católico e o “Axé” da umbanda temos a constatação das primeiras agendas identitárias, as religiosas.

Se hoje todos acham que o feminismo, a identidade de gênero, a de raças e a de posturas sociais são as pautas e agendas identitárias, embora não estejam errados, desconhecem que as primeiras são as religiosas, que à época resumiam todas as outras.

Se hoje vemos religiosos sendo contra o aborto, a pauta “aborto” é oriunda das agendas identitárias religiosas. O racismo também é um exemplo, pois quem não se lembra que a Igreja de Roma, com hegemonia na Europa, dizia que negro não tinha alma? E sabemos que isso era apenas com a intenção de inferiorizar os habitantes da África para poder explorá-los sem culpa, inclusive os escravizando, já que na “bíblia”, principalmente a judaica, é indicada ser uma prática aceita, tolerada e incentivada por Deus.

O que quero dizer é que, embora as pautas identitárias de hoje tenham um viés menos conservador e mais libertário, a forma com que elas são aplicadas e exploradas respeita a mesma “bula” das conservadoras religiosas.

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Se hoje o feminismo é libertário, a “bula” ainda é conservadora, a dosagem é igual. Pois, se olharmos mais atentamente para ela e fizermos a comparação da intenção, veremos que, por interesse econômico e de exploração de um grupo, a Igreja Católica fez nascer o racismo institucionalizado. De igual forma, itens libertários, como o direito de voto ou sequer de usar calças compridas, fizeram o feminismo nascer por interesse econômico, pois indicava mão de obra barata e indispensável, já observada nas guerras, quando os homens viravam soldados e as mulheres operárias. Isso ficou muito claro depois da Revolução Industrial, fazendo nascer ditados populares como: “trabalho de mulher é pouco, mas quem dispensa é louco”. Hoje, essa mentalidade foi transferida para os exploradores de trabalho infantil, tirando a mulher e colocando a criança. Como a história mostra, no início da Revolução Industrial, as crianças eram usadas e abusadas como mão de obra barata.

Se houve uma dura batalha dos negros para ter garantida sua liberdade civil, o intuito ao ser criada a escravidão, mesmo com a abolição da escravidão legal no mundo, a exploração de sua mão de obra segue até hoje. Não é diferente para as mulheres, que ainda lutam por equiparação, mas que jamais conseguirão.

Então, quando alguém for se envolver numa pauta identitária, deve fazer a análise do que se pede e como, com que “bula” e em que dosagem ela deve ser praticada. A receita, a agenda é a mesma e, no capitalismo, sempre será a exploração. Fiquem atentos às conquistas obtidas, pois elas podem ser apenas protelação e, ao invés de remédio para o mal, apenas um placebo.

Por José Ribas