O agronegócio: alavanca para o futuro
Em algumas décadas o Brasil passou de importador a um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, em vias de se tornar o maior. Em chocante contraste com a indústria, essa história de sucesso foi calcada no empreendedorismo, boas políticas de crédito e fomento, parcerias público-privadas e pesquisa e inovação de ponta. Não à toa o agro foi o único setor com desempenho positivo na pandemia – literalmente a “salvação da lavoura” nacional.
A agropecuária se encontra em um momento crucial da história, dadas as oportunidades e desafios gerados pelo crescimento demográfico, inovações biotecnológicas, demandas de sustentabilidade e atritos comerciais entre potências como EUA, China e Europa. Em contrapartida, as políticas externa e ambiental autodestrutivas do governo, combinadas à difamação promovida por demagogos e competidores internacionais, têm provocado distúrbios que ameaçam o desenvolvimento do setor.
Assim, foi mais do que oportuno o foco do Summit Agronegócio, promovido pelo Estado, no tema Reputação do agro – erros, acertos e exigências aqui e lá fora.
Entre as constatações positivas, há um consenso de que o agro melhorou a tecnologia, elevou a eficiência e vem reduzindo fortemente a pressão por desmatamento ao recuperar áreas degradadas com processos que combinam a redução de gases de efeito estufa com mais produtividade.
Ao mesmo tempo, há uma apreensão geral com os desconcertos entre o poder público e o agro que produz e preserva. Todas as partes interessadas concordam que é imperativo implementar plenamente o Código Florestal, sobretudo no combate ao desmatamento. Além disso, é indispensável mobilizar esforços para a regularização ambiental e fundiária.
Ante esses desafios, assim como em setores como produtividade, sustentabilidade, redução de custos e crédito, há altas expectativas em relação às novas tecnologias digitais. Mas nesse ponto, a gargalos históricos – como a infraestrutura deficitária de transporte e logística – vêm se juntar novos, como a conectividade no campo. Isso demandará um esforço do poder público para otimizar seus investimentos e modernizar quadros regulatórios que facilitem a injeção de capital privado.
A pressão por boas práticas ambientais e segurança alimentar de potências geopolíticas e de megablocos de investidores só aumentará. É imperativo que o poder público e a iniciativa privada se alinhem para fortalecer a comunicação em fóruns internacionais das conquistas brasileiras, das quais o Summit apresentou um mostruário condensado, mas substancioso, como a integração lavoura-pecuária-floresta, matrizes bioenergéticas limpas, agricultura intensiva, melhoramento genético e bem-estar animal.
Em especial a pecuária, comumente vista como “o calcanhar de aquiles” da reputação ambiental do agronegócio, pode ser uma alavanca transformadora. Muitos experimentos bem-sucedidos comprovam que a pecuária pode não só ser sustentável, como contribuir fortemente para o sequestro de gases de efeito estufa. O desafio para os próximos anos é aprimorar e disseminar essas técnicas em larga escala.
A regularização ambiental e a regularização fundiária também são fundamentais. Muitos movimentos ambientalistas, ainda que bem-intencionados, vilanizam todo esforço de reinclusão de produtores com histórico de irregularidades ambientais e a regularização de propriedades rurais como um favorecimento à grilagem e ao desmatamento. Mas é preciso separar o joio do trigo. Sem prejuízo da punição aos criminosos, uma regularização fundiária bem feita, além de facilitar a fiscalização ambiental, pode reintegrar à cadeia produtiva milhões de pequenos produtores e suas famílias, que atualmente trabalham na clandestinidade e em situação de alta vulnerabilidade jurídica e social.
O agronegócio é provavelmente a peça-chave para que o Brasil possa cumprir a sua dupla vocação de celeiro do mundo e guardião da maior biodiversidade do planeta. Não se pode poupar esforços para aprimorar suas práticas imperfeitas e coibir as más – mas é preciso ao mesmo tempo, e com igual ênfase, prestigiar as boas.
Por Notas & Informações – Estadão