A resposta do Brasil para crise da mudança climática
O aquecimento da atmosfera é o desafio crucial da sociedade global no século 21. Segundo cálculo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), até o fim do século a proliferação de eventos extremos e de temperaturas devastadoras tornariam insustentável a produção de grãos – milho e soja em primeiro lugar – no Centro-Oeste americano.
Esse fenômeno, evidentemente o mais disruptivo desta fase histórica, tem uma origem estrutural. É o resultado direto da atividade produtiva capitalista, especialmente a da Segunda Revolução Industrial, centrada na produção automotiva e no motor de combustão interna, cujo principal insumo eram os combustíveis fósseis provenientes da indústria do petróleo.
Nos EUA, epicentro da Segunda Revolução Industrial, a “civilização automotiva” cresceu exponencialmente de 1913, com Henry Ford, a 1968. Sendo assim, a superpotência americana se tornou a primeira e a maior emissora de CO2 do mundo.
Como consequência, em 1950 a temperatura nos estados do Centro-Oeste americano já era mais de 1 grau centígrado superior à de 100 anos antes. O ciclo de eventos extremos adquiriu rapidamente um caráter catastrófico, como, por exemplo, em 2012, ano em que houve mais de 117 dias com temperaturas acima de 35º/40º e uma estiagem incomum que destruiu lavouras e reduziu a produtividade em mais de 5%.
A crise da mudança climática encontra agora seu principal desafio no Brasil, que dispõe da maior biomassa do planeta, nos 204 milhões de hectares do Cerrado somados aos 5,5 milhões de km2 da Amazônia. E também porque o sistema agroalimentar do Brasil é o segundo do mundo, depois do dos EUA e, em 10 anos, pode ser o primeiro. O Cerrado é a chave do negócio agroalimentar brasileiro e o país utiliza apenas um quarto desse espaço imenso.
O Brasil, que produz 257 milhões de toneladas de grãos e 67 milhões de frutas e vegetais, agora pretende incorporar 80 milhões/100 milhões de hectares de terras degradadas à produção agroalimentar.
Toda a produção do Cerrado é resultado do trabalho de inovação e conhecimento científico e tecnológico realizado por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), uma das empresas de pesquisa e desenvolvimento mais eficientes e criativas do mundo.
O desenvolvimento da Amazônia depende do surgimento em larga escala de empresas privadas reguladas pelo Estado. Especialmente empresas mineradoras, que paguem impostos e os distribuam localmente, principalmente nas imensas reservas indígenas, hoje nas mãos de contrabandistas, de organizações criminosas, muitas delas colombianas e venezuelanas, em uma região com um território maior do que o continente europeu, sem a presença do Estado e sem nenhum controle nas fronteiras.
Só no Cerrado, o Brasil pode dobrar sua produção de agro alimentos e de fibras nos próximos 10 anos, sem cortar nem uma árvore e sem provocar queimadas.
Mais de 15% da produção agroalimentar do Cerrado brasileiro já é realizada por meio do “plantio direto”, a grande inovação argentina, que pode ser o caminho do Prêmio Nobel para Victor Trucco. Com a intervenção da Embrapa, essa produção pode dobrar ou triplicar na próxima década.
Mais de 25% da produção de carne do Brasil, – a primeira do mundo -, está nas mãos de grandes empresas de relevância mundial, como JBS e Marfrig. No entanto, o sistema de produção brasileiro é, ao mesmo tempo, massivo e profundamente heterogêneo, com mais de 2,5 milhões de produtores, muitos deles com pouca ou nula produtividade.
Essa atividade é em grande parte desregulada, não trabalha com contratos de longo prazo (fundamentais nos EUA) e opera em mercados diários (spots), onde é impossível estabelecer cadeias de rastreabilidade, a forma moderna de concorrência nos mercados globais, especialmente nos de maiores níveis de renda.
A regra estratégica do capitalismo é clara: onde existe um problema existe também a solução. Sempre existe uma solução por causa da integração dos mercados mundiais, que faz com que o “possível” nos mercados mais avançados se torne “presente” e viável nos mercados mais atrasados.
No mundo da globalização e da Quarta Revolução Industrial, baseada no conhecimento, o destino não é mais inexoravelmente trágico.
Por Clarín