Uma grata surpresa
Gosto de ser surpreendido, seja qual for o (bom) motivo. Por isso que tive uma boa convivência com o Hyundai Tucson 2022, um concorrente de modelos como Honda CR-V, Toyota RAV4 e outros SUVs médios no mercado norte-americano e também se já fosse vendido no Brasil. A marca não estava feliz em o Tucson ser apenas competente e dentro da média e deu a ele um design exterior chocante combinado com um interior mais espaçoso e muita tecnologia.
O novo Tucson 2022 não é simplesmente uma grande evolução de seu antecessor, mas também pode ser um dos melhores SUVs da sua categoria no mercado. Relembrando a minha semana com o Nissan Rogue, fiquei impressionado como tão bem a Hyundai conseguiu ter as mesmas qualidades de sua rival de Hiroshima. E mesmo passando apenas alguns dias com ele, o Tucson me deu diversas boas (e uma ou duas ruins) surpresas.
Melhor vestido ou pior?
O termo “sharp dresser” indica, em inglês, uma pessoa que se veste bem. Mas no caso do Tucson, podemos aplicar a tradução literal, de afiado. Com algumas linhas do sedã Elantra, o Tucson tem diversas superfícies conectadas por linhas que criam espaços positivos e negativos nas linhas da carroceria. Por exemplo, o paralelogramo inserido nas portas conversam com os arcos de rodas geométricos. O para-lama dianteiro e um rebaixo no painel traseiro coletam luzes para a parte superior da carroceria e criam sombras para as portas e a parte mais baixa.
O uso de triângulos no design de um carro é raro, mas a Hyundai não segue isso com uma grade dianteira característica, que camuflam elementos como as luzes diurnas de condução por trás de um acabamento cromado translúcido. Como no irmão menor Venue, o Tucson tem seus faróis principais colocados em pequenos cortes no parachoque dianteiro, impedindo o uso de faróis de neblina. As lanternas tem formato de presas e estão conectadas por uma barra iluminada. Olhando de perto, as lanternas ligadas mostram um visual como se fosse uma galáxia.
Detalhes como esse mantém nossos olhos curiosos se ficarem cansados de olhar o estilo geral do Tucson, o que achamos que deve acontecer rapidamente. Mas “interessante” é bastante utilizado como um elogio no lugar da palavra “bonito”. Pessoalmente, acho que o Tucson faz um excelente uso de seus ângulos estranhos e linhas para ser diferente e, apesar desse monte de linhas se cruzando, é um estilo coeso e atrativo no geral. Nem todos de nossa equipe concordam com isso, mas fico feliz em ver a Hyundai assumindo riscos em design, mesmo em seus modelos mais comuns.
Sala de estar
O design interior do Tucson é bem menos divisor de opiniões. Em destaque, detalhes metálicos no console central e separando o topo do painel e área das janelas do restante da cabine – um pouco como era usado nos Mustang e Thunderbirds no meio dos anos 1960, mas modernizado com o volante nada comum em 4 raios da Hyundai. Os materiais são dentro do esperado na categoria, com a parte superior do painel e parte superior das portas acolchoados, com a parte mais baixas das portas e do console central em plástico rígido. Como no Nissan Rogue, o acabamento das portas traseiras usa plástico rígido, com a parte suave ao toque aparecendo no apoio de braços apenas.
Nos bancos dianteiros, 1.052 mm de espaço para as pernas e 968 mm de espaço para a cabeça, batendo o CR-V por apenas 2,5 mm e o RAV4 em 10,2 mm em ambos os pontos. O Rogue tem 2,5 mm a mais de espaço para as pernas e 33 mm mais para a cabeça. O Tucson começa a mostrar vantagem na segunda fileira, com 1.050 mm para as pernas e 990 mm para cabeça. Diante de seus concorrentes, apenas a Honda e Toyota são maiores para a cabeça. Os elementos do Tucson, como o banco traseiro reclinável (aquecido na Limited) ampliam o espaço e o conforto para os adultos.
O espaço no porta-malas também impressiona, com 1.095 litros quando os bancos estão levantados (até o teto, padrão utilizado nos Estados Unidos), ou 2.118 litros com os bancos rebatidos. Apenas o do Honda com os bancos rebatidos são melhores, com 2.146 litros. Por outro lado, o Hyundai Tucson é mais confortável na dianteira que seus concorrentes.
A unidade testada tinha o sistema multimídia com 10,3″ e controle da climatização com controles sensíveis ao toque para um design moderno e limpo, mas ainda seria melhor manter botões físicos para o volume, seletor de estação de rádios e alguns comandos do ar-condicionado. São funções bastante utilizadas e acabam distraindo muito quando estamos dirigindo e estes ícones são pequenos demais para utilizar de forma rápida.
Ao menos o sistema multimídia do Tucson é fácil de usar – um botão de acesso a home seria bem-vinda, mas há um botão que pode ser configurado como isso. O painel de instrumentos de 10,3″ totalmente digital é ajustável e configurável.
Dando a volta
A menos que você compre um Tucson híbrido ou plug-in, terá sempre o motor 2.5 aspirado ligado a um câmbio automático de 8 marchas. A unidade testada que dirigimos tinha a tração integral com o diferencial central blocante manualmente para pisos mais escorregadios, mas mesmo automaticamente, ele distribui bem a força entre os eixos dianteiro e traseiro.
Há um seletor de modos de condução com 4 programações – Normal, Sport, Smart e Snow -, mas a menos que você tenha mais paciência do que eu tive, deixará o tempo todo no Sport. O Normal deixa as respostas do acelerador lentas demais, fazendo o Tucson bem mais lento que o necessário no trânsito.
O modo mais esportivo deixa o SUV mais vivo, mesmo com apenas 190 cv e 24,6 kgfm de torque levando os 1.656 kg, o Tucson é apenas adequado quando falamos em direção esportiva. Ele é ágil diante dos 183 cv do Rogue ou 192 cv do CR-V, mas os 205 cv do RAV4 são melhores, enquanto o Mazda CX-5 e seu opcional motor turbo de 254 cv é o mais rápido da turma. Em termos de dirigibilidade e frenagem, o Tucson vai no mesmo barco do Nissan, Toyota e Honda, seguro e estável, mas longe de ser divertido.
O que deixa o Hyundai mais atrativo é a longa lista de equipamentos de segurança de série. Alerta de colisão com frenagem automática com detecção de pedestres, assistente de faixa e monitor de atenção do motorista estão em todos os Tucson, enquanto a versão Limited que dirigi tem o piloto automático adaptativo, assistente de condução em rodovias e alerta de ponto-cego. Os competidores tem o mesmo nos pacotes de entrada, mas apenas o Nissan ProPilot é tão bem integrado como os sistemas do Tucson, que mantem o carro bem centralizado no meio da faixa e distanciado de outros veículos, mesmo em curvas ou trânsito pesado.
Infelizmente, o Hyundai fica atrás quando falamos em consumo de combustível, marcando 10,2 km/l na cidade, 12,3 km/l na estrada e 11,1 km/l no combinado – vi o computador de bordo marcar 9,8 km/l depois de uma direção um pouco mais empolgada, O Honda CR-V é o mais econômico do segmento, com 12,3 km/l no combinado, e o RAV4 e o Rogue com 11,9 km/l. O Tucson 2022 melhora isso de seu antecessor, mas esperava um combinado na faixa dos 12,8 km/l e 13,2 km/l para mais na estrada. É bem diferente dos 15,3 km/l do híbrido (ante os 16,6 km/l do RAV4 Hybrid).
Brincando com números
Nos Estados Unidos, o Hyundai Tucson 2022 SE começa em US$ 24.950, oferecendo uma tela de 8″, os já comentados sistemas de segurança e iluminação em LEDs na dianteira e traseira. A intermediária SEL adiciona os bancos aquecidos, chave presencial, alerta de ponto-cego e piloto automático adaptativo por US$ 26.500. A com estilo esportivo N-Line tem rodas exclusivas, interior em tecido e couro e painel de instrumentos digital (mas nenhuma mudança mecânica) por US$ 30.600, enquanto a Limited justifica os US$ 34.700 com o teto-solar panorâmico, sistema de estacionamento automático e tela de 10,3″ para o sistema multimídia. HTRAC, sistema de tração integral, é opcional para todas por US$ 1.400.
A versão Limites HTRAC como testada, pintada em Amazon Gray, custa cerca de US$ 36.100, um bom preço por uma versão completa se você não procura um desempenho atlético de um SUV. Por US$ 36.930, o Nissan Rogue Platinum AWD tem uma fórmula similar, com melhor consumo de combustível e ergonomia. Ainda assim, o novo Hyundai Tucson está no topo do segmento em espaço interno, conforto e estilo se comparado com concorrentes com motor similar e dirigibilidade parecidos. Depois do Palisade e Sonata, o Tucson é outra boa surpresa da marca.
No Brasil?
Não descartamos a chegada do novo Hyundai Tucson em nosso mercado. Se olharmos para os concorrentes Honda CR-V Touring (R$ 264.900) e o Toyota RAV4 Hybrid SX Connect (R$ 274.900), o Tucson deve aparecer na faixa dos R$ 250.000. Como referência, a atual geração montada no Brasil com o 1.6 turbo inicia os seus valores em R$ 171.990, com 2 versões. No entanto, ainda não temos nenhum indicativo de quando o novo Tucson aparecerá por aqui.
Por Leo Fortunatti – Motor1