Aqui o tempo fechou

O frio chegou.
Uma leve e indecisa garoa deixa tudo mais úmido,
mais também tudo mais triste.

A melancolia e a sensação de solidão tomam-me o corpo como cobertor e se infiltra em minha alma como uma bruma sutil que a tudo penumbra…

A natureza se contrai e os animais se calam como se refletissem sobre o mistério do aqui estar, como indagação do aqui existir.

Até o canto dos pássaros se tornam tristes como os hinos lamentosos em que louvam o Criador.

Mas esse é o ciclo necessário da renovação da vida, a natureza precisa alternar empolgação, euforia, excitação com recolhimento e tristeza, precisa do stress do calor que abrasa e do frio que nos entoca, nos intimida, ela precisa da alegria e do luto, do prazer e da dor para permanecer viva e forte, precisa da reverência das preces para cumprir os seus ciclos inexoráveis…

Aqui permaneço eu esperando a minha hora, o derradeiro momento, refletindo sobre a finitude e a impermanência de tudo e de todos os elementos de meu entorno…

Aqui percebo e constato que não sou nada ou quase nada, aqui estou como pó, poeira de estrelas…

Aqui permanece todas as criaturas,

Aqui permanecem os reflexos, os claros sinais, as sombras e energias que denunciam a sutil presença do Criador desde os tempos imemoriais…

Aqui permaneço resignado como ovelha nas mãos de seu Tosquiador

Aqui permaneço isolado aonde o meu teto são as nuvens densas e escuras, onde o meu teto é o céu aberto e livre…

Deus seja louvado sempre!