Como combater os desastres climáticos e as crises alimentares

Relatório da ONU aponta os principais pontos sobre a luta contra a mudança climática

O novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), publicado na última segunda-feira (4), propõe uma série de medidas para lutar contra o fenômeno e manter a possibilidade de um futuro “viável”.

O estudo tem cerca de 2.800 páginas, produto do consenso científico mais extenso até agora.

Pico de emissões em 2025

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A poluição do ar já pode ser a principal causa de mortes no planeta. Foto Ion Ceban

Se as emissões de gases de efeito estufa não forem reduzidas significativamente até 2030, a meta de +1,5°C para a temperatura média do planeta estará “fora de alcance”.As políticas atuais abrem caminho para um aquecimento global de +3,2°C até o final do século.

As emissões deveriam, portanto, atingir o pico em 2025, o que parece improvável. A trajetória voltou a subir em 2021, atingindo níveis recordes pré-pandemia. O nível de emissões de 2019, que equivale ao “orçamento de carbono” disponível para conservar 66% das possibilidades de ficar abaixo de +1,5°C, será totalmente consumido em oito anos.

Substituir as energias fósseis…

Se todas as jazidas de petróleo, gás e carvão continuarem a ser exploradas, sem uma tecnologia para capturar o carbono emitido, será impossível chegar a +1,5°C. 

Para começar, os subsídios aos combustíveis fósseis devem ser eliminados, para que as emissões diminuam em 10%. Para atingir +2°C, 30% das reservas de petróleo, 50% das reservas de gás e 80% das reservas de carvão teriam que permanecer no subsolo, se o CO2 não puder ser capturado e armazenado. Isso representa trilhões de dólares em perdas.

… por fontes de baixa emissão ou neutras

Foto Johan Bos

A capacidade da energia solar e eólica aumentou nitidamente, entre 170% e 70% respectivamente, entre 2015 e 2019. Mas atualmente, representa apenas 10% da produção elétrica mundial. Acrescentando as centrais nucleares e a hidroeletricidade, chega a 37%. O restante provém de energias fósseis.

Reduzir a demanda

O relatório propõe incentivar os deslocamentos curtos, utilizando veículos elétricos, além do teletrabalho, o isolamento doméstico e redução das viagens de avião. Isso permitiria chegar a uma redução das emissões de gases entre 40% e 70% até 2050.

Acabar com o metano

As emissões de metano, gás de efeito estufa de curta vida, mas 21 vezes mais potente que o CO2, representam a quinta parte do total. Essas emissões devem ser reduzidas à metade até 2050. Isso implicaria conter vazamentos, produtos derivados de petróleo e gás, além da pecuária, importante fonte de metano.

Relatório propõe incentivar os deslocamentos curtos utilizando veículos elétricos

Captura de CO2

No pior dos cenários, a redução das emissões deveria acompanhar técnicas de eliminação do dióxido de carbono. Para isso, seria necessário plantar novas árvores para literalmente capturar o CO2 da atmosfera, algo que não tem sido feito de forma massiva. Essa tecnologia permitiria compensar os setores como a aviação, o transporte marítimo e a fabricação de cimento, grandes emissores.

Agir custa caro…

Manter o objetivo de +1,5°C implica investimentos de 2,3 bilhões de dólares anuais entre 2023 e 2052, somente no setor de eletricidade.

O montante pode ser reduzido a 1,7 bilhões, se alcançado o objetivo de +2°C. Em 2021, o mundo gastou 750 bilhões de dólares em energias limpas, segundo a Agência Internacional de Energia.

…não fazer nada custa mais

Os climatologistas e ecologistas garantem que o decrescimento econômico decorrente destas medidas seria amplamente benéfico, caso a transição energética seja concluída. Os desastres climáticos e as crises alimentares seriam combatidos, garante o relatório.

Apenas em saúde pública, 7 milhões de mortes prematuras causadas pela poluição poderiam ser evitadas.

Por AFP