Hotel 66, projeto fotográfico do artista visual Lula Ricardi em que foram registradas as fachadas de sessenta e seis hotéis simples e anônimos da cidade de São Paulo. As imagens sempre noturnas, mostram elementos importantes que compõem o amplo tecido urbano. Os hotéis baratos que durante o dia passam quase despercebidos na paisagem, à noite se destacam e seus neons multicoloridos cumprem a função de chamar a atenção em meio ao caos da metrópole.
Ao mesmo tempo que são um chamariz para seus futuros ocupantes, geralmente usuários simples ou transeuntes das ruas a procura de sexo, essas luminescências aliadas a ecléticos desenhos arquitetônicos geram potentes imagens.
Foi necessário percorrer ruas, vielas, lugares obscuros e desertos para encontrá-los, três meses de noites adentro em um trabalho de campo, às vezes correndo os riscos que uma cidade grande oferece a um transeunte solitário, ainda mais com tripé e uma câmera na mão.
A pesquisa se desenvolveu durante quatro meses, onde o fotógrafo percorreu as ruas pelas madrugadas fotografando cantos por vezes escuros e lúgubres. Hotel 66 que tem o nome baseado no aventureiro que busca uma hospedaria na famosa rota americana, traz uma novidade ao lançar luz a um ponto obscuro da cidade, os hotéis que são invisíveis em meio à pressa e ao caos diário impelem uma beleza peculiar ao espectro urbano noturno. O trabalho seriado buscou apresentar essa dimensão estética.
Contemplado no XV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia o projeto se tornou um fotolivro formando um álbum documento que registra a contemporaneidade tanto pelo aspecto plástico quanto comportamental. Será lançado no dia 10 de outubro de 2017, juntamente com uma exposição de parte das imagens no MIS – Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. Quatro imagens da série, após participarem da exposição ‘Antilogias – O Fotográfico na Pinacoteca’ fazem parte agora do acervo permanente da instituição.
O projeto permitiu uma vivência de relação com a realidade, de contato com um universo existente e camuflado, as entranhas urbanas materializando-se através da linguagem visual. Foi a possibilidade de experimentação por meio de um processo sistematizado de documentação, captação de luzes, de cores e do ambiente desses lugares.
Juntar o resultado dessa experiência em um livro, estabelecendo uma narrativa, torna-se, portanto, a oportunidade de fazer um recorte correspondente ao momento contemporâneo. É uma vantagem colocar as imagens em sequência, destacando suas relações, seus contrastes e suas correspondências. Mostrar, a um só tempo, por meio de um olhar particular, as possibilidades visuais da cidade e da linguagem fotográfica, transformando a dureza do mundo moderno e caótico em poética – um gesto sempre desafiador.
Por Divino Sobral
Lula Ricardi é artista visual, nascido em São Paulo, graduado em arquitetura, com formação em design gráfico. Na fotografia, aborda questões relacionadas à urbanidade e ao cotidiano, trabalhando com ressignificações que expõem temas como o vazio, o silêncio, a solidão, o espaço, os vestígios e as rupturas. Premiado no XV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, no Salão de Outono da América Latina e no Salão de Arte de Mato Grosso do Sul. Apresentou, no Museu de Arte de Goiânia, a exposição “Despertencimento” e no Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul a exposição “Admirável Mundo Novo”. Finalista no 4º Concurso RM Fotolibro Ibero Americano, no México, com o livro de arte “A Carne Que Nos Serve”. Tem obras no acervo da Pinacoteca de São Paulo, no Marco – Museu de Arte Contemporânea de MS e na BnF – Biblioteca Nacional da França