Te convido a parar por alguns segundos e pensar na sensação de contemplar o sol se pondo no horizonte. Imagino que, o que aflora são sentimentos positivos, não é mesmo?
Campo Grande é a capital reconhecida pelas belas cores do céu durante o pôr do sol. É comum vermos nas redes sociais, fotos de residentes orgulhosos e turistas encantados retratando a beleza desse momento. Famílias passam o final da tarde com seus entes queridos em áreas verdes como o Parque das Nações Indígenas e, por muitas vezes, nesses dias que os registros acontecem. Mas você já parou para pensar que essa contemplação, outrora permitida a qualquer pessoa que pudesse enxergar, cada vez mais se transforma num privilégio para poucos?
Desde o prolongamento da Avenida Afonso Pena, há aproximadamente 20 anos, houve um crescimento imobiliário significativo causando muitos problemas ambientais na região, localizada na Bacia Hidrográfica do Prosa. É muito comum, no verão chuvoso, alagamentos na cidade provocados pela urbanização baseada na permissividade das fracas leis ambientais. Mas esse não é o único problema causado pelo tal “des-envolvimento” (escrito propositalmente assim, para refletirmos sobre o significado do termo).
Em 2012, o músico Nando Reis fez um show no Parque e alertou a população que estava presente. Ele disse algo do tipo: “O que está acontecendo com essa cidade? Nós quase não podemos mais enxergar a lua maravilhosa que está no céu! Há pouco tempo estive aqui nesse mesmo lugar e não havia tantos prédios nesta região. Vocês não podem deixar isso acontecer”!
O fato é que a construção de torres de edifício de alto padrão na região do entorno do Parque das Nações Indígenas, – no entorno do Parque do Sóter também – acabará transformando esse desfrutar num privilégio para poucos.
Desde a década de 80, com a escrita do livro “Biofilia” por Edward Osborne Wilson, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas, apontando que o convívio humano com outros elementos ou seres da natureza traz melhora da saúde, como por exemplo, diminuição da pressão arterial. Ou seja: há um valor imensurável à saúde humana, no vivenciar contemplativo do nascer ou pôr do sol, da lua ou dos voos de aves, como exemplo, as araras canindés, tão frequentes. E tudo isso está ameaçado!
Trago a reflexão para as famílias que escolhem ou almejam morar a elevadas alturas, em grandes prédios de luxo. Como está sendo ou seria viver aí dentro, sem poder compartilhar áreas de uso comum, sem poder caminhar no Parque, podendo somente observá-lo? Como as crianças têm se comportado sem contato com o ambiente natural? Valerá a pena a escolha por este tipo de habitação? É a qualidade de vida de uma família, principalmente com crianças em sua constituição, a mesma que a de uma família que possui um quintal e que pode usufruir sem medo de contágio do Covid-19?
Então, quanto custará esse desfrutar? Eu diria que em torno de 2 milhões de reais que é o valor necessário para adquirir um apartamento na região. Você tem? Você quer?
Cintia Possas, é bióloga, professora, educadora ambiental, mãe de gêmeos e cicloativista atuante no Coletivo Bici nos Planos Campo Grande. Fez parte da Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade – REJUMA, do Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul, atuou coordenando atividades de Educação Ambiental na Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso do Sul.
Enfaiolamento do por do sol… Fazer dele um quadrado visto só de janelas. Infelizmente. Enquanto lá de fora, seria um espetáculo público, gratuito para todos… Bela e necessária reflexão!
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