Câmara dos Deputados apresenta proposta para Reforma Tributária

Projetos não reduzirão a pressão sobre o consumo, diz André Oliveira. Foto de Anna Shvets

Especialista avalia que projetos em andamento não reduzirão a pressão sobre o consumo, essencial para o crescimento do país

O Grupo de Trabalho na Câmara Federal, criado em fevereiro deste ano para discutir a proposta de reforma tributária na casa, coordenado pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), deve apresentar o texto do relatório das atividades do Grupo nesta terça-feira (6). O documento reúne um resumo de pontos consensuais do que foi compilado ao longo dos últimos meses, com destaque para a PEC 45.

André Felix Ricotta de Oliveira. Foto Estadão

Na avaliação do tributarista André Felix Ricotta de Oliveira, professor Doutor em Direito Tributário, os projetos em curso no Congresso Nacional não são milagrosos e carecem de melhorias. “Temos que tomar cuidado com a redação do princípio da não cumulatividade do IBS, para que não ocorra o que aconteceu com o ICMS, no qual o direito a crédito do imposto sofreu inúmeras restrições com fundamento na legislação complementar e nos regulamentos dos Estados. Outro ponto importante é dar atenção à situação das empresas do Simples Nacional, para que estas também concedam créditos para seus contratantes”, avalia o professor.

Felix ressalta ainda a necessidade de um olhar especial para a tributação sobre o consumo, excessiva no Brasil e que compromete em cheio a cadeira produtiva. “Na década de 80, a indústria representava 30% do PIB; hoje ela representa 9%. Não há incentivo para termos um novo parque industrial, por exemplo. Por isso, é de fundamental importância desonerar a cadeira produtiva e a tributação sobre o consumo, com mais clareza, mais transparência, menos complexidade e mais segurança jurídica”, considera.

O advogado exemplifica: “Nós temos dois tributos que não existem em nenhum lugar do mundo, que são os irmãos siameses PIS e COFINS, incidentes sobre faturamento e receitas. Independente de lucro ou prejuízo, as empresas pagam. São tributos complicados, que geram muitos embates entre Receita, contribuintes e Poder Judiciário”.

Felix defende ainda que o Brasil privilegie a tributação sobre renda e patrimônio, tal qual outros países, mais desenvolvidos economicamente. “Nos países desenvolvidos, a tributação sobre o consumo é transparente. Nesses países, entende-se que a cadeia produtiva deve ser desonerada porque, no final das contas, quem responde por essa tributação é o consumidor final”.

Foto Canva Studio

Traçando um panorama histórico, André Felix lembra que, quando da aprovação da Constituição de 1988, o sistema tributário era mais simples e apresentava uma arrecadação em torno de 23% do PIB. “No decorrer dos anos, os entes políticos abusaram, criando novos tributos, incluindo bitributações sem previsão constitucional através de emendas que foram inclusive chanceladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Em sua visão, a Reforma Tributária deveria ser discutida num pacote só, a fim de apresentar um novo sistema tributário nacional, mais simples, que respeite a capacidade contributiva dos contribuintes e que promova a justiça social, privilegiando a tributação sobre renda, lucro e patrimônio.

Fonte André Felix Ricotta de Oliveira, professor doutor em Direito Tributário, sócio do Felix Ricotta Advocacia, coordenador do curso Tributação sobre o Consumo do IBET e Presidente da Comissão de Direito Tributário da OAB/SP – Seção Pinheiros