Em duas semanas, total de queimadas no Pantanal supera o registrado em agosto de 2019. Alta em comparação com ano passado está em 53%. Neste ano, bioma apresenta um aumento de 240% no número de focos de calor
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) contabilizou mais focos de queimadas nos primeiros 13 dias de agosto deste ano no Pantanal do que durante o mês inteiro de 2019. É menos da metade do tempo, mas o número absoluto já apresenta uma alta de 53%.
Desde o dia 1º deste mês, em 2020, são 2.578 pontos de calor. Em todo o mês de agosto do ano passado foram 1.684, de acordo com a base do Inpe.
Neste ano, o bioma registrou o maior número de focos de incêndio para julhodesde o início das medições do Inpe – 1.684 pontos de calor, contra 494 no mesmo mês de 2019. No acumulado do ano, entre os dias 1º a 13 de agosto de 2020, a alta é de 240% em relação ao mesmo intervalo do ano passado. A contagem entre 2018 e 2019 do mesmo período já estava alta: 431%.
A comparação entre os números absolutos de queimadas entre biomas mostra que a Amazônia tem o maior número de focos. No entanto, a floresta amazônica no Brasil representa uma área mais de 30 vezes maior do que a do Pantanal. Já o número de focos não acompanha a extensão: é apenas 4 vezes mais alto.
E o Pantanal precisa da floresta: pesquisadores relacionam o aumento das queimadas na região também ao desmatamento na Amazônia – é da floresta que vem a maior parte da umidade que alimenta o Pantanal, explicam. Os números confirmam o problema: as áreas de desmatamento aumentaram 34,5% no período de um ano,de agosto de 2019 a julho de 2020.
“Essa baixa quantidade de chuvas fez com que nós tivéssemos, este ano, a menor cheia dos últimos 47 anos. E, segundo as nossas estimativas, é bem provável que nós tenhamos, também, a maior seca desse mesmo período”, disse Carlos Padovani, da Embrapa, ao Jornal Nacional.
A floresta lança no ar a umidade que é levada pelas correntes até esbarrar na Cordilheira do Andes. Volta, então, distribuindo chuva para toda uma região que vai até o Sul do Brasil. Quando esse maciço verde começa a ser fragmentado, não lança tanta umidade assim e falta chuva no Centro-Oeste.
“Nestas condições, não ocorre a recarga dos aquíferos que viabilizam o retorno dessa umidade estocada na bacia para a formação de nuvens. Então, se a chuva de 600 milímetros acontecesse somente em outubro e novembro, os demais meses ficam secos e a estiagem será maior”, também explicou Ivan Bergier, da Embrapa.
Seca
O Pantanal é normalmente uma região alagada, mas encontrar água para combater o fogo não está sendo fácil. As lagoas estão baixas por causa da seca. Não chove há mais de dois meses.
De acordo com reportagem do G1 Mato Grosso, as equipes da cidade de Poconé (entre as 10 que mais queimam no país neste mês) não conseguem encher os reservatórios de água dos aviões e helicópteros para o combate do fogo. E, com isso, estão reabastecendo a água usando uma mangueira de um hotel da região.
Via terrestre também está difícil o acesso para o controle das queimadas. Em algumas áreas só dá para chegar de trator. A umidade do ar é muito baixa e o sol muito quente. Segundo o Ibama, 1,1 milhão hectares foram destruídos até a primeira semana de agosto no MT. No Mato Grosso do Sul, a área perdida equivalente a 9 vezes o tamanho da cidade do Rio de Janeiro.
Mato Grosso está em primeiro lugar no ranking de focos de incêndio no país e aplicou R$ 14,3 milhões em multas por queimadas ilegais, de janeiro a julho deste ano, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).
Decreto
As queimadas no Pantanal e na Amazônia aumentaram mesmo depois de um decreto do Ministério do Meio Ambiente (MMA) publicado no dia 16 de julho (e que começou a valer na mesma data), que suspendeu por 120 dias o uso de fogo em ambos os biomas.
O texto diz que a proibição se aplica “no território nacional”, apesar de determinar que “ficam autorizadas as queimas controladas em áreas não localizadas na Amazônia Legal e no Pantanal, quando imprescindíveis à realização de práticas agrícolas, desde que autorizadas previamente pelo órgão ambiental estadual”.
Em 2 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo brasileiro busca “desfazer opiniões distorcidas”sobre a atuação do Brasil na proteção da floresta amazônica e dos povos indígenas. Ele disse ainda que o governo tenta mostrar as ações que vem adotando nessas áreas.
Bolsonaro deu a declaração durante reunião de cúpula dos chefes de Estado do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), realizada por videoconferência em razão da pandemia do novo coronavírus.
“Nosso governo dará prosseguimento ao diálogo com diferentes interlocutores para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor a preservação, as ações que temos tomado em favor da proteção da floresta amazônica e do bem-estar das populações indígenas”, disse Bolsonaro.
Por Carolina Dantas, G1