Preços dos alimentos podem continuar em queda nos próximos meses

Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Aumento da produção devido às condições climáticas favoráveis e disseminação dos pontos de produção contribuem para diminuição dos preços

Muitos brasileiros reclamam dos preços dos alimentos nos supermercados e feiras. Produtos como hortaliças, aparecem, muitas vezes, com preços elevados preocupando parte da população. Mas segundo Romilson Aiache, mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente e professor das cadeiras de Logística e Planejamento Estratégico do Centro Universitário Uniceplac, as constantes elevações podem dar espaço para oportunidades melhores de compra e assim aliviar o bolso dos consumidores.

“Existe uma possibilidade dos preços se tornarem mais acessíveis para o consumidor. Mas tudo vai depender do comportamento da oferta. Caso se mantenha nos mesmos patamares, a tendência é de manutenção dos preços”, aponta.

Uma análise da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) junto as Centrais de Abastecimentos (Ceasas) mostra que a maioria das hortaliças comercializadas nos principais mercados atacadistas do país registrou nova queda nos preços. Alface, batata, cenoura e cebola ficaram mais baratas no último mês, conforme o 10º Boletim do Programa Brasileiro de Modernização do Mercado Hortigranjeiro (Prohort).

De acordo com o professor Romilson Aiache, esses produtos apresentaram queda porque se tratam de itens de primeira necessidade, com baixa elasticidade e que, salvo alterações muito significativas nos preços, não afetarão demasiadamente a demanda. “Não há dúvida que os preços de alguns itens de hortaliças e legumes têm caído recentemente”, salienta. 

Ele diz que isso se deve principalmente a dois fatores: “A produção aumentou, devido a condições climáticas favoráveis, portanto, houve aumento da oferta, com a consequente queda nos preços; e houve uma pulverização dos pontos de produção, aproximando-se dos pontos de consumo, fazendo com que o custo logístico diminuísse um pouco”, aponta.

Preços mais baratos

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A cebola foi o produto com maior queda na média ponderada registrada em setembro. A redução foi verificada mesmo com a menor quantidade do produto nos mercados em comparação com os níveis de agosto. A batata teve diminuição contínua e unânime das cotações pela intensificação da safra de inverno a nível nacional. O total comercializado nas onze Ceasas ultrapassou a marca das 100 mil toneladas. 

A cenoura foi outro produto que teve queda na média ponderada, mas não em todos mercados pesquisados. A oferta em setembro foi menor quando comparada a agosto. Porém, as chuvas e as temperaturas altas registradas no último mês a nível nacional nas áreas produtoras provocaram perda de qualidade do produto, influenciando na desvalorização da cenoura e, consequentemente, queda na demanda. As chuvas em setembro no Rio Grande do Sul, por exemplo, praticamente interromperam a colheita, gerando queda de cerca de 65% dos envios deste estado à Ceasa. 

A especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Merula Borges, também acredita que a projeção de consumo será um pouco melhor para o final desse ano e início do ano que vem. “Isso porque a gente tem uma melhoria no mercado de trabalho com um aumento de renda e a gente já começa a época de contratações temporárias para o fim do ano. Isso significa que vai ter mais dinheiro entrando no comércio, no varejo e na indústria”, avalia.

Conforme a especialista, para o consumidor alimentos com preços mais controlados ajudam na organização das famílias. “Para as famílias mais baixas, os alimentos ocupam um espaço muito grande no orçamento”, revela.

Estabilidade nos preços

Foto Polina Tankilevitch

Merula Borges diz que é importante que haja uma estabilidade, pois, a oscilação de preços acaba refletindo no poder de compra e no mercado. “Quando você tem uma oscilação grande de preços em algum item especificamente você tem muitas famílias sendo afetadas e consequentemente a economia toda vai ser afetada de alguma maneira”, ressalta.

E quem precisa ir ao mercado, se assusta com os preços elevados e com as constantes variações. A diarista Maria do Carmo Vieira conta que não consegue mais organizar o orçamento, por não saber quanto vai gastar nos estabelecimentos. 

“Todas as vezes que a gente vai ao mercado a gente vê o preço muito alto, uma coisa que a gente pensa que é um preço, daqui a pouco já vai dar outro e tá difícil você viver hoje nesse país com tudo caro — você vai no mercado e cada dia tudo mais caro”, reclama.

Para a especialista da CNDL, os alimentos ocupam um espaço muito grande no orçamento da família. “Quando o preço sobe deixa as famílias numa situação mais desfavorável. E com a estabilização dos preços dá sim uma tranquilidade maior para o consumidor de pensar em outros itens, às vezes até regularizar as necessidades por conta da situação econômica e perda de renda que a gente teve nos últimos tempos”, ressalta.

Exportações

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De janeiro a setembro de 2023, o volume total de frutas exportado foi de 694 mil toneladas e o valor foi de US$ 794,8 milhões, aumento de 5,14% e 19,04%, respectivamente, quando comparado ao mesmo período do ano passado. Os embarques de frutas como bananas (-26,7%) e mamões (-10,1%) foram menores, enquanto foram ampliadas as vendas ao mercado externo de mangas (14,3%), limões e limas (5,3%), melancias (11,3%) e abacates (142%).

Merula Borges explica que, quando começou a guerra entre Ucrânia e Rússia, já se tinha uma previsão de um possível aumento das exportações brasileiras de grãos.

“O leste europeu, composto ali também por Rússia e Ucrânia, são importantes produtores de grãos, principalmente. “Com eles em guerra alguém acaba ocupando esse espaço. Essa previsão se concretizou e realmente o Brasil aumentou a sua exportação de grãos justamente por conta desse motivo”, aponta.

Mas ela lembra que a guerra traz também um cenário de instabilidade política, econômica e que afeta todas as questões também como taxa de juros. “Então se ganha por um lado e acaba se perdendo por outro”, salienta.

O mestre em Gestão Econômica do Meio Ambiente e professor das cadeiras de Logística e Planejamento Estratégico do Centro Universitário Uniceplac Romilson Aiache, acrescenta: “Também é preciso compreender que o Brasil vive hoje uma economia inflacionária já há muitos anos, o que significa dizer que o poder de compra da população vem caindo, ainda que em pequena escala, continuamente”, analisa.

Fonte: Brasil 61