Mobilização para salvar o Pantanal

Foto Ylvers/Pixabay

Pantanal em chamas: mobilizações online cobram ação dos governos

Seca histórica, recorde de queimadas, mudanças climáticas e degradação de biomas interligados. A combinação tem levado o Pantanal, maior área úmida continental do planeta, a um estado preocupante. Estatísticas confirmam que a apreensão não é à toa: agosto é o mês em que o território mais sofre em chamas nas duas últimas décadas. As cenas que retratam esse cenário vem provocando reação entre os brasileiros, que cobram medidas urgentes.

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Parte dessa pressão popular acontece na internet, por meio de abaixo-assinados online. Nas últimas semanas, diversas mobilizações sobre o tema começaram a se formar na plataforma de petições Change.org. As quatro maiores, criadas por cidadãos de diferentes regiões do país, engajam juntas mais de 73 mil pessoas pedindo socorro pelo Pantanal.

“A queimada anual é cíclica, mas cada vez mais se eleva, até consumir toda a parte que restou! Ajude, assinando este abaixo-assinado para que possamos ter visibilidade nacional e da própria cúpula executiva. Onde estão eles?”, questiona a maior das campanhas. No debate sobre culpas e responsabilidades, a atuação governamental tem sido posta em xeque.

A principal crítica que especialistas ambientais fazem em geral sobre as políticas públicas é que os órgãos de fiscalização têm sofrido um processo de desmantelamento, ao passo em que o desmatamento ilegal avança descontroladamente em todos os biomas. Como resultado, o desequilíbrio do ecossistema causa severos impactos na área do Pantanal.

Os incêndios florestais podem ser provocados pelo homem ou por causas naturais Divulgação Corpo de Bombeiros

“O mundo vive hoje um cenário ambiental sem precedentes. O Brasil não se exclui disso, com sua política bárbara de proteção à maior planície alagada do mundo e à própria Amazônia”, protesta trecho da petição que cobra providências do Ministério do Meio Ambiente diante da situação de crise não só no Pantanal e na Amazônia, mas também no Cerrado.

Biomas em alerta

De acordo com números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Pantanal registrou em julho 1.684 pontos de queimadas. O índice é o mais alto desde que o instituto começou a medir o dado – no ano de 1998. Em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando foram verificados 494 focos, o aumento dos incêndios foi de 240%.

Dados compilados até meados de agosto já indicam novos recordes trágicos relacionados aos incêndios no território. Desde o início do ano, as queimadas já atingiram pelo menos 17,5 mil quilômetros quadrados do Pantanal, o que representa mais de 10% da área total do bioma, que é de 150 mil km², estendendo-se pela Bolívia e Paraguai.

Imagens da região em chamas repercutem desde o mês passado pelo país, como as que mostraram o céu de cidades da região centro-oeste do Brasil tomado pela fumaça. Outras cenas que chamam atenção sobre a situação da área exibem importantes espécies da fauna pantaneira – como jacarés e sucuris – mortas em decorrência das queimadas.

Bombeiros lutam contra incêndios na floresta amazônica e no Cerrado Foto Skeeze/Pixabay

O longo período de seca tem reduzido as periódicas inundações do bioma. Além disso, de acordo com ambientalistas, o desmatamento recorde na Floresta Amazônica e os incêndios que também atingem o Cerrado brasileiro impactam no Pantanal.

No foco das atenções mundiais desde o ano passado, a Amazônia teve 9,2 mil km² devastados num período de 12 meses. A estatística refere-se ao período de agosto de 2019 a julho de 2020, comparado com o mesmo intervalo de 2018 a 2019. A medição é feita pelo sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe.

Já no Cerrado, que é reconhecido como a savana mais biodiversa do mundo e considerado a “caixa d’água do Brasil” por abrigar oito das 12 regiões hidrográficas do país, foram identificados 4.821 pontos de calor, apenas entre os dias 1º e 17 deste mês.

Operação Pantanal

Por trás da devastação ilegal dos biomas brasileiros, ambientalistas e ativistas da causa apontam a expansão do agronegócio nessas regiões como uma das problemáticas principais para o desequilíbrio do ecossistema, ao lado de uma fiscalização deficiente por parte dos órgãos governamentais. Pastagens para a criação de gado avançam nessas áreas.

No dia 25 de julho, as Forças Armadas começaram a atuar no combate a incêndios no Pantanal sul-mato-grossense. Em 5 de agosto, as ações foram estendidas ao Pantanal mato-grossense. Por meio da “Operação Pantanal”, brigadistas em helicópteros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica despejam água, durante os sobrevoos, para conter as chamas.

PMA fiscaliza propriedades na região em busca de focos de queimadas. Foto Sílvio de Andrade

Em nota publicada em seu portal oficial, o Ministério da Defesa informa que as ações seguem na região. “O Ministério da Defesa, por meio das Forças Armadas, prosseguiu no combate a focos de incêndio que atingem o Pantanal de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso”, diz o comunicado. “Na quarta-feira (19), as ações ocorreram no combate a três áreas de focos de incêndio no município de Poconé (MT), nas seguintes regiões: Corixão (01), Colônia Pesqueiro do Beição (01) e Fazenda Pantanal Mato Grosso (01)”, completa o informe.

O governo federal também editou, no final mês passado, um decreto (nº 10.424) que proíbe queimadas em todo o território brasileiro por um prazo de 120 dias.

O abaixo-assinado online que faz pressão por mais medidas e ações efetivas das autoridades segue aberto e reunindo apoiadores por meio da plataforma Change.org.

Por Redação Catraca Livre