Você sabe o que é essa danada da “fake news”?

O meio político, que aposta no enfrentamento de meia dúzia de cidadãos na esquina, não vai nos levar a um bom lugar

Perceber a conduta política, seja boa ou ruim, em atos administrativos de qualquer instância de Poder, seja municipal, estadual ou federal, nunca poderá ser rotulado como fake news.

Muito tem se falado em “combater fake news”, porém existe um problema nisso, e é claro: você sabe o que é fake news e quem pode e deve definir o que é e o que não é?

Neste vídeo que eu publico, que está nas redes sociais para quem quiser ver, nos deparamos com um desabafo, uma denúncia, não de crime, mas de impopularidade política na administração pública estadual. Sendo os bombeiros, que em quase todo o país são militares, portanto subordinados à Secretaria de Segurança do Estado, vemos que existia uma regra preestabelecida de não fazer uso de equipamento público fora das especificações previamente determinadas. Apesar de eu não enxergar crime de omissão na resolução do comandante dos bombeiros, também não vejo fake news nesse vídeo e em nenhum dos relacionados a esse assunto. O que vemos, mesmo o comandante dos bombeiros sendo um cargo de escolha política, assim como o comandante da polícia militar, à qual os bombeiros estão subordinados, e de igual forma o secretário estadual de segurança, o que vemos é incompetência ou má indicação do ato político. Portanto, não há nenhum “fake” no vídeo e não é tampouco “news”. É a mudança do lugar de fala, literalmente, do cidadão, que antes era nas ruas e hoje são as ruas da comunidade digital conquistada pelo avanço tecnológico humano mundial. Assim, se esse cidadão saísse a cada esquina real, física, das ruas de qualquer cidade, não seria nem fake e muito longe de ser news, mas sim protesto, indignação, repúdio a uma política pública ineficiente e ridícula feita por políticos administradores dos bens e poderes públicos do Estado.

Se agora, nesse exato momento, o governador ordenasse que os jetskis devessem ir para as ruas e serem usados para fazer o melhor para a população do Rio Grande do Sul, mesmo com regras preestabelecidas, mesmo que alguns desses jets viessem a sofrer danos nesse uso excepcional, não poderia o governador ser acusado de crime de dilapidação do patrimônio público. Porém, isso teria que ser feito imediatamente, quando o primeiro vídeo veio a público, mostrando que o político no cargo de governador reage ao protesto e aos reclames de seus eleitores. Isso ficou claro no caso da ação da ANTT. Sim, eles barraram caminhões com ajuda solidária que chegou ao RS, sim, assim como o comandante dos bombeiros, eles agiram dentro da regra pré-estabelecida previamente, porém o governo federal, tão ruim como o governador do estado, não ter excepcionalmente determinado o uso dos jetskis, preferiu criar uma polêmica usando uma rede de televisão contra uma figura pública civil brasileira, sendo que poderia capitalizar a velocidade com que reagiu à situação inesperada, o que mostraria eficiência política na capacidade de ouvir atentamente seus eleitores. E ainda, sua militância continua errando em defender o indefensável, e pior, jogando fora a oportunidade de capturar o que seria um mérito.

O fato é, seja em qual instância for, hoje no Brasil há um endurecimento e um erro por infantilidade técnica, científica e administrativa da possibilidade do povo, através da tecnologia e das redes sociais, ter qualquer esquina, rua ou praça para protestar. No aprendizado do mal, das eras ditatoriais que o Brasil passou, nas redes sociais não dá para colocar a polícia com escudos, cassetetes, balas de borracha e bombas de efeito moral, portanto, mostrando-se um bando de ignorantes ditadores de aprendizado das piores escolas, resolveram colocar o Legislativo e o Judiciário com “bate-pau” de outrora, criando e tentando tipificar como crime o que sempre haverá e que é extremamente benéfico à organização de base democrática de um país, o protesto, a denúncia, o reclame e o desagravo.

Do jeito que está o Brasil, o meio político, que aposta no enfrentamento de meia dúzia de cidadãos na esquina protestando por justiça ou segurança, não vamos chegar a um bom lugar.

Por José Ribas