Cirurgias plásticas não garantem bem-estar mental e físico
O Brasil lidera o ranking de países que mais fazem cirurgias plásticas no mundo. Embora a princípio eu não seja contra procedimentos desse tipo, acredito ser fundamental questionarmos o motivo pelo qual tantas pessoas buscam transformar a aparência pelo bisturi.
Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, os procedimentos mais procurados não são de natureza corretiva, mas lipoaspirações e implantes de próteses de silicones. O Brasil também está em primeiro lugar no número de cirurgias plásticas em adolescentes. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, cirurgias desse tipo aumentaram na última década em 141% para o grupo de jovens entre 13 a 18 anos.
Além disso, as cirurgias de “alta definição” – também chamadas de lipoescultura HD –, que têm como objetivo esculpir o abdômen, o peitoral e as coxas de homens e mulheres visando contornar músculos, estão sendo normalizadas por blogueiras e influenciadores como algo que, supostamente, é acessível para todos, chegando inclusive a serem objetos de sorteio em redes sociais.
O número crescente, a banalização dos procedimentos e a própria transformação da natureza desses procedimentos provam como o padrão de beleza é algo efêmero e em constante mutação, além de se tornar cada vez mais inatingível de maneira natural e saudável.
Se entendermos essa busca por um corpo perfeito como algo vindo da pressão estética – ou seja, da pressão social, perpetuada e difundida pela sociedade e pela tentativa de encaixar pessoas no padrão de beleza vigente, com relação direta com a insatisfação corporal e com a imagem –, temos, na verdade, um número de cirurgias que tende a refletir a quantidade de pessoas insatisfeitas e que buscam incansavelmente o corpo que as permita viver com plenitude e felicidade.
O problema é que a cirurgia plástica nem sempre é a garantia de bem-estar mental e físico, exatamente pela constante mudança dos padrões de beleza e pela própria possibilidade de a pessoa insatisfeita nunca se sentir plena e feliz com o próprio corpo, passando de um incômodo a outro após cada nova cirurgia. É como se estivéssemos em uma corrida na qual a linha de chegada nunca chegasse, sempre sendo empurrada para mais longe a cada passo que damos.
Nosso corpo carrega consigo marcas e uma história. Para viver em paz com a forma física, é fundamental respeitá-lo, colocando em uma perspectiva mais saudável e ponderada a pergunta sobre até que ponto cirurgias plásticas constituirão nossa derradeira chance de sermos felizes com ele.
Por Marcela Kotait – Catraca Livre