Um em cada quatro jovens tem o próprio negócio: veja exemplos de sucesso
Ser o próprio chefe é a realidade de um em cada quatro jovens. Segundo o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), a taxa de empreendedorismo inicial entre pessoas de 18 a 34 anos é de 25,4%. O número contempla indivíduos envolvidos na criação de um novo negócio ou já a frente de uma empresa com até 3,5 anos de atividade. O dado é de 2019 e revela que a iniciativa de empreender nesta faixa etária vem crescendo – em 2018, o índice era 20,6%.
Outro levantamento, do Serasa Experian, revela que entre janeiro e agosto de 2020 foram abertas 2.195.945 empresas no Brasil. Desse total, 35% por jovens entre 19 e 30 anos.
Bruno Stuchi, 34 anos, é um exemplo de empreendedor que começou cedo. Aos 29, ele fundou a Aktie Now, empresa de consultoria e tecnologia voltada para ao atendimento ao cliente. Em 2016, quando tudo começou, o negócio contava com cinco pessoas. Hoje, são 94 funcionários e há planos de expansão para 2021.
A vontade de escrever a própria história sempre esteve presente na vida de Bruno. “Desde que cursava o Ensino Médio eu queria ter meu o negócio. Comecei a minha carreira trabalhando com tecnologia em empresas e, quando as oportunidades de empreender apareciam, sempre coincidiam com promoções no meu trabalho e eu acabava ficando onde estava. Mas quando eu finalmente decidi seguir meu sonho, coloquei na minha cabeça que não voltaria nunca mais para o mercado”, lembra.
A primeira tentativa foi uma sociedade com um colega em uma fábrica de softawers. Propostas de emprego foram surgindo no meio do caminho, mas Bruno manteve e foco e recusou toda elas. “Meu pai, que trabalhou por 30 anos em uma multinacional, ficava louco”, brinca.
A decisão de investir na própria empresa veio anos depois e, claro, acompanhada de muitos desafios. “Quando você começa a empreender, praticamente só há dinheiro para o dia seguinte. Trabalha-se para pagar as contas daquele mês, não há capital de giro”, diz. “Havia meses em que eu atrasava meu salário para pode pagar os dos outros. Ao mesmo tempo, era necessário investir para crescer. E aí vinha a dúvida: onde investir?”, completa.
Saber escolher a equipe e confiar nela foi outro grande aprendizado. “No começo eu definia tudo. Depois passei a formar pessoas do time e a sair da operação. Foi preciso saber perder um pouco do controle, delegar sem largar”, afirma.
Olhando para trás, o CEO da Aktie Now acredita que de toda experiência se deve tirar um aprendizado. Além disso, ter foco em um só negócio é essencial. Conhecimento amplo também faz toda a diferença. “É fundamental saber um pouco de tudo: marketing, financeiro, recursos humanos etc. Hoje consigo passar por cada área e discutir cada ação.”
Amigos com vontade de empreender e inovar
A Fluke, operadora 100% digital, foi fundada por quatro jovens – Marcos Antônio Oliveira Júnior, Vinícius Akio, Yuki Kuramoto e Augusto Pinheiro. Todos têm entre 22 e 23 anos.
Com o objetivo de criar uma empresa com propósito e trazer uma alternativa ao tradicional mercado de telecom, os quatro foram buscar no mercado as experiências necessárias. A ideia era absorver o máximo de conhecimento como funcionários para, mais tarde, aplicar no próprio negócio. O “intensivão” durou dois anos. Em 2019, a empresa nasceu.
“A maior parte da minha vida achei que seria cientista. Quando entrei na faculdade de engenharia, porém, fiz uma disciplina optativa de empreendedorismo e aquilo abriu minha mente. Percebi que o que me motivava era tirar as coisas do papel e envolver pessoas”, conta Marcos, 22 anos.
Dois dos sócios – Antônio e Vinícius – estudaram na mesma escola que Marcos, em Goiânia. Augusto entrou para o grupo depois que conheceu Marcos através de uma rede social. Os dois, aliás, montaram uma pequena empresa, com foco em automação, mas desistiram após um ano para concentrar todos os esforços na Fluke.
Segundo Marcos, o maior desafio foi entrar em um mercado dominado por grandes empresas e alcançar maturidade, entendendo a dinâmica dos concorrentes.
A pouca idade também já foi uma barreira para o quarteto. “Éramos muito bem tratados por telefone e e-mail, mas pessoalmente não era assim. Lembro de uma vez em que fui para uma reunião e, além de esperar cinco horas para ser atendido, ainda ouvi que deveria estudar o mercado”, conta Marcos.
Consolidada, a Fluke conta hoje com 30 pessoas e também tem planos de crescimento. Os sócios moram juntos em São Carlos, no interior de São Paulo. “Se um de nós está mal, os outros são a rede de apoio. Somos uma família.”
Marcos deixa três conselhos a quem deseja empreender. “Escolha bem as pessoas que vão estar com você, entenda que o resultado pode demorar a vir e tenha em mente que a rotina do empreendedor é inconstante – um dia você vai se achar o cara mais inteligente do mundo e no outro, o mais idiota.”
Com a palavra, o Sebrae
Guilherme Campos, diretor de administração e finanças do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), afirma que o mercado oferece muitas opções e que tendências surgem e desaparecem o tempo todo. Por isso, é preciso cautela e conhecimento para coletar e estruturar informações antes de empreender. É nesse momento que entra o plano de negócios.
“À primeira vista, ele pode parecer burocrático e cheio de detalhes. Mas depois de finalizado é capaz de materializar suas ideias e mostrar um panorama geral do negócio que você deseja abrir”, diz Campos.
Saiba quais dados levantar para fazer um bom plano de negócios:
• Informações sobre o seu produto ou serviço:
Para quem é? Onde será comercializado? Quem serão seus fornecedores e concorrentes? Quais são suas forças, fraquezas e ameaças?
• Plano de Marketing:
Estratégia do produto, venda, promoção, distribuição, precificação e comunicação.
• Processo operacional:
Informações sobre produção, atendimento e estoques.
• Análise Financeira:
Qual será o seu investimento fixo, custos e faturamento?
Qual será o investimento em mão de obra e estoques?
Simulação de financiamentos, indicação de tributos e sazonalidade.
Fuja dos erros comuns ao empreender
Além da falta de planejamento, o diretor cita outros deslizes recorrentes na hora de empreender: falta de apoio familiar; dificuldades de relacionamento entre sócios ou com membros da equipe; falta de capacidade comercial; má escolha de colaboradores, parceiros e fornecedores; controle de estoque deficiente; má definição da política de preços; burocracia e falta de recursos financeiros.
Abrir uma empresa é um grande passo, mas para Campos o maior desafio é mantê-la viva e competitiva. Ele lembra que a taxa de mortalidade dos pequenos negócios no Estado era, em média, de 39% entre o ano 2000 e 2019.
“O empreendedor deve estar sempre se atualizando e se informando. Ele precisa estar atento ao que ocorre no seu setor, observar as tendências, o comportamento do consumidor e a situação econômica. É importante estar sempre aberto a novas ideias. Por isso, o dono de um negócio não pode se isolar. Deve manter o máximo de contato possível com outros empreendedores, fornecedores e parceiros”, aconselha.
Por Marília Montich – Metro